Introdução
À medida que um significado novo é dado
a uma palavra, parece crescer o número de
novos exemplares, semelhantes na forma,
mas diferentes quanto ao conteúdo. A este
fenômeno comumente dá-se o nome de ambigüidade
e / ou metáfora. O fenômeno da
ambigüidade é comum a todas as línguas
naturais, que, diante de constantes transformações,
têm seu acervo lexical reconstruído
sócio e historicamente. O que se percebe,
mais precisamente quanto à polissemia
(uma das manifestações oriundas da ambigüidade),
é que palavras polissêmicas possuem
uma forte carga informacional e que
quanto mais um termo acumula significados,
mais se deve supor que ele expressa aspectos
representativos das atividades intelectuais e
sociais humanas.
1 Problematização
Convencionalmente, denomina-se ambigüidade
lexical o fenômeno em que uma mesma
palavra assume mais de um significado, e
como metáfora, uma palavra que é usada
num sentido abstrato a um sentido concreto
e que geralmente lembra aquilo que a mesma
se refere (Halliday, 1995).
Percebe-se que ambos os conceitos que
descrevem a ambigüidade e a metáfora compartilham
traços comuns, e talvez o mais relevante
deles seja a capacidade de tomar uma
palavra ou uma expressão lingüística que,
literalmente possui um determinado significado
e a partir dele atribuir-lhe novas conotações.
A proposta deste trabalho será expor, por
meio de uma investigação teórica, as diferentes
abordagens que discutem o fenômeno da
ambigüidade e a dificuldade em distinguir a
polissemia da homonímia, bem como a manifestação
do recurso metafórico, aplicadas
ao vocábulo “preto”, objeto dessa discussão.
Barbosa (1996), igualmente, observa que
uma palavra é polissêmica quando, mesmo
assumindo uma outra conotação, a unidade
de significado básica é preservada (a unidade
garantida pelo núcleo semico comum
aos múltiplos setores de semas). Esse núcleo
comum é o que permite que o falante identifique
um único signo lingüístico em suas diferentes
realizações. Para Ullmann (1964) a
polissemia pode conduzir à ambigüidade em
três diferentes situações: no contato entre as
línguas, ocasionada pelo empréstimo semântico
de uma língua estrangeira; no uso técnico
e científico, i.e., na reutilização de termos
implicando a ele novas definições; e na
fala vulgar, quando uma palavra produz dois
ou mais sentidos em um mesmo contexto.
Ainda Ulmann (1964), a polissemia poderia
ser explicada pelas seguintes procedências:
(i) Mudanças de aplicação, ou seja, um
dado item lexical adquire maior número
de sentidos graças ao deslocamento de
emprego que ele abarca num determinado
período de uso. Ex. o adjetivo
quente em: 1) Este feijão está quente; 2)
Ela é uma menina quente.
Onde o adjetivo em 1 expressaria o sentido
literal do termo (em que há calor; de
elevada temperatura) e em 2 tomado secundariamente
como sensual, entusiástico, o que
de certa forma, estaria retomando seu significado
primário.
(ii) Especialização em um meio social,
i.e., as palavras adquirem diversos significados
dependendo do seu campo de atuação.
Ex. o substantivo guia em: 1) Você
conhece algum guia? 2) Ele preencheu a
guia adequadamente.
Onde guia em 1 significa o profissional
que conduz, que chefia um grupo de pessoas
numa excursão, numa empresa, e em 2, um
formulário que acompanha por ex. os procedimentos
médicos solicitados por um especialista.
Neste caso, mesmo possuindo um
significado que depende do campo profissional,
há como se estabelecer um vinculo entre
os dois casos: o formulário preenchido pelo
médico conduzirá por ex., a um tratamento
ou um diagnóstico, lembrando a definição do
termo guia enquanto líder, chefe.
3 Metáfora
A metáfora, desde Aristóteles, foi tradicionalmente
tratada apenas como figura de retórica
ou de linguagem poeticamente motivada,
isto é, tão somente um mero ornamento
lingüístico. A metáfora era então, particularmente
reservada ao uso poético. No entanto,
o “falar metafórico” está constantemente
presente na linguagem cotidiana, no
falar comum.
7.
(a) O Ronaldinho tem fome de bola.
(b) Ela é tão apetitosa que deixa todo
mundo comágua na boca.
Expressões como estas, freqüentes na linguagem
cotidiana, ilustram que o perfil das
metáforas há muito tempo deixou de ser poético
e que seu uso não é (se é que um dia foi)
mais reservado à literatura.
http://www.bocc.ubi.pt/pag/freitas-helena-resgate-teorico-vocabulo-preto.pdf