Resumo
Colocamos em perspectiva o Programa do
Jô, um talk show em que se fundem a entrevista,
a música e o humor. Este programa
se encontra disponibilizado em vídeo pela
Internet, no site da Rede Globo e no website
anárquico-minimalista YOU TUBE. Logo
Professor Associado, Departamento de Comunicação,
UFPB, Dr. Ciências Sociais, Université René
Descartes, Paris V, Sorbonne, 1995; Mestre em Comunicação,
UNB, 1988.
consiste num dispositivo hipermidiático,
em que a informação e o entretenimento se
conjugam, dando visibilidade a uma nova
dimensão do espaço público. Miramos o
período da crise política do Governo Lula
(2005/2006), culminada no “escândalo dos
mensalões”, quando o programa simulou
uma CPI eletrônica, formada por um time
de mulheres jornalistas e analistas políticas,
as “Meninas do Jô”1. Numa estratégia
inteligente, colocou em ação a competência
feminina para decifrar as tramas políticas do
Congresso Nacional e através da sátira se
empenhou no tratamento de um tema difícil,
como a corrupção; fazendo humor, a mídia
desencadeou novos estilos de informação e
entretenimento.
1As chamadas “Meninas do Jô” consistem nas integrantes
de um quadro inserido no Programa do Jô,
sob a forma de mesa redonda, em que se revezaram
as jornalistas e ativistas políticas Christiana Lobo
(Globo News), Tereza Cruvinel (O Globo), Bárbara
Gancia (Folha de S. Paulo), Maria Lídia (TV Gazeta
/ Rádio Bandeirantes), Ana Maria Tahan (JB),
Florência Costa (Isto é), Lillian Witte Fibe (UOL
news), Maria Aparecida de Aquino (USP), Zileide
Silva (Globo), Sonia Racy (O Estado de S. Paulo);
o quadro foi ao ar pela primeira vez em 28.06.2005 e
pela última vez em 31.10.06.
1 Abertura
O papel do Programa do Jô, assim como
foi o do Jô onze e meia, é fundamental
em meio a tantas parafernálias jornalísticas.
As máscaras despencam diante
do bom astral do humorista, reduzindo
o espaço que a demagogia costuma
ter na frente das câmeras. A condução
do apresentador tira o caráter teórico que
por muitos é utilizado como camuflagem.
Bom humor em função da cidadania. A
CPI que utiliza uma perigosíssima arma
para os que devem: a espontaneidade
(BARBIERI, 2005).
O Programa do Jô consiste numa espécie
de ícone da cultura midiática, graças a sua
longa permanência no ar (desde 2000), sua
exibição diária, de segunda à sexta feira, depois
das 23h, pela Rede Globo e a cifra extraordinária
de milhares de entrevistas realizadas
com gente de expressão no cenário nacional
e internacional, além de uma multidão
de anônimos que, exibindo proezas inusitadas,
encarnam a imagem especular dos homens
e mulheres comuns com os quais os
espectadores se identificam.
É, sobretudo, um programa voltado para a
diversão e o entretenimento, e tendo à frente
Jô Soares, um artista esclarecido, poliglota,
diretor de arte, com experiência em teatro,
cinema, televisão, literatura, cuja carreira se
consolidou a partir das suas habilidades de
comediante, o programa possui a característica
de tratar dos temas sérios com descontração.
E é pelo prisma do humor que - estrategicamente
- o apresentador consegue atingir
as nervuras tensas da realidade política nacional.
Contemplamos o Programa do Jô, delimitando
uma duração referente ao período
em que se inscreve a crise política do governo
Lula, culminada com o chamado “escândalo
dos mensalões”. Durante esse intervalo
de tempo, o programa entrevistou os
personagens do mundo político, criando assim
um fórum privilegiado de exposição (e
discussão) da crise política. Oportunamente,
a produção do programa criou um quadro
intitulado As Meninas do Jô, composto por
mulheres, jornalistas e analistas políticas,
cuja competência comunicativa lhes permitiu
atuar ativamente, criando um espaço crítico
na mídia, acompanhando a agenda nacional
e focalizando a atuação das Comissões
Parlamentares de Inquérito (CPIs2), no Congresso
Nacional.
Neste contexto, os discursos das Meninas
do Jô sobre o escândalo do “mensalão”, a
crise política e as Comissões Parlamentares
de Inquérito (e os outros escândalos), têm
uma repercussão marcante na esfera pública.
Num país machista, com baixa consciência
política, o fato de mulheres se empenharem
com êxito e brilhantemente num debate que
ajuda a esclarecer a complexidade dos fatos
políticos, causa admiração e efetivamente assegura
uma audiência importante.
O debate realizado no quadro as Meninas
do Jô, consiste na publicização de um conjunto
de fatos, que, divulgados na rotina do
telejornal, adquirem um sentido mais mecânico
e talvez pouco digestivo. Através dos
“jogos de linguagem”,
http://www.bocc.ubi.pt/pag/paiva-claudio-riso-siso-programa-jo.pdf