O principal receio de quem tenha gostado de
Borat (presumindo-se que, quem não gostou, nem sequer pensará em ver o novo esforço de Sacha Baron Cohen) seria que
Brüno não
passasse de uma repetição forçada da mesma fórmula, apenas para fazer
render o peixe e sem o enorme valor da epopeia por terras americanas do
jornalista mais célebre do Cazaquistão. Não é o caso. A fórmula
mantém-se, realmente, e a abordagem é a mesma partilhada pelas três
personagens de Cohen: colocar individualidades e gente comum perante
elementos suficientemente distantes da sua realidade para que lhes seja
concedido o benefício da dúvida (um cazaque de hábitos duvidosos, um
especialista em moda de comportamento inacreditável, um pseudo-rapper
com clara deficiência mental) e conseguir levá-los a dizer o que pensam
e nunca ousaram dizer e a fazer o que lhes é mais natural mas que
sempre tentam conter, tudo através de um método que parece inspirado
pelos programas de câmara escondida, mas elevado a forma de arte e com
a câmara perfeitamente visível. Neste sentido,
Brüno e
Borat são
iguais, levando em conta as singularidades de cada uma das personagens.
Mas também é inegável que, nos dois filmes, o desempenho de Cohen é tão
brilhante (e assustador) que nos vai deixando maravilhados,
boquiabertos e incrédulos, quando não estamos demasiado tomados por um
riso incontrolável para formular alguma destas reacções. Por mais
agradável que seja o resultado, fica um travo amargo. Tendo já
anunciado que não voltaria a interpretar Borat e Ali G (ironicamente, a
personagem que o tornou famoso foi a que teve direito a menos sucesso
cinematográfico, possivelmente pela abordagem narrativa em detrimento
da fórmula original) e esperando-se que o mesmo suceda com Brüno,
porque a visibilidade anula utilizações subsequentes, tudo indica que
esta forma de terrorismo cinematográfico desenvolvida por Cohen fique
por aqui. A não ser que surja uma quarta personagem igualmente eficaz e
que lhe permita esconder uma cara cada vez mais reconhecível. Se isso
acontecer, Sacha Baron Cohen acabará por morrer inevitavelmente de
forma violenta, tal é o afinco com que se coloca em situações que vão
do embaraço extremo ao perigo muito real. Mas ficar-lhe-emos
eternamente gratos pelo sacrifício.
Classificação: Brüno
De: Larry Charles
Com: Sacha Baron Cohen, Gustaf Hammarsten
Origem: http://acinematecadeucabodemim.blogspot.com/2009/07/bruno.html
Ano: 2009Trailer