As mudanças climáticas globais têm um efeito multiplicador, intensificando os riscos já existentes para as populações. O mais preocupante é o facto de tal panorama não estar num livro ou filme apocalíptico, mas sim num relatório baseado num levantamento global e inédito a respeito de migrações e de mudanças ambientais, produzido por cientistas ligados à Organização das Nações Unidas e à Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos, entre outras instituições.
O cenário é dramático: em meados do actual século, milhões de pessoas poderão estar a fugir de mares que se elevam, de secas ou enchentes devastadoras e de outros desastres naturais, em busca de locais mais seguros onde possam sobreviver – pelo menos 200 milhões até 2050, podendo chegar a 700 milhões nos piores cenários. De acordo com a Cruz Vermelha Internacional, actualmente, por todo o Mundo, mais de 25 milhões pessoas já começaram a migrar como consequência directa das alterações climáticas.
Entre os destaques do documento está a indicação de que a falência de economias baseadas em ecossistemas, incluindo pesca, pecuária e agricultura de subsistência, será o principal factor para a migração forçada.
Outro ponto importante é o de que as mudanças climáticas deverão aumentar a frequência e a intensidade de desastres naturais, como ciclones, cheias ou secas. A quantidade de chuvas em parte da América Central poderá cair para metade até 2080. Agricultores no México e no Norte de África já estariam a deixar as suas propriedades por culpa das alterações nos padrões de precipitação.
Essas alterações, juntamente com a subida das temperaturas, estarão, assim, na origem de uma degradação dos solos e da desertificação, ou seja, de uma redução da área disponível de terra cultivável e da produtividade da agricultura. De um modo mais geral, verificar-se-á uma competição crescente pelo acesso aos recursos (água, alimentos, energia). Infra-estruturas de produção como os transportes e, consequentemente, a actividade económica serão afectadas.
O relatório aponta o facto de o aumento do nível do mar ameaçar directamente a existência de pelo menos 40 países (correm o risco de desaparecer se a elevação do mar ultrapassar os dois metros). A intrusão da água salgada, alagamentos e erosão poderão destruir a agricultura nas regiões densamente povoadas dos deltas de alguns dos principais rios do Planeta, como o Nilo, o Mekong e o Ganges.
DIMINUIR OS GASES DE EFEITO ESTUFA
É fundamental que os países cheguem a um acordo para diminuir a emissão de gases que estimulam o efeito estufa na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que se realiza em Copenhaga, na Dinamarca, de 7 a 18 de Dezembro. Mas, mesmo que um acordo seja conseguido – e que as emissões de dióxido de carbono diminuam efectivamente –, os cientistas ressaltam que isso não ocorrerá a tempo de evitar todas as migrações.
NÚMEROS
90
Durante os últimos 90 anos, metade dos pequenos mamíferos migrou para altitudes mais elevadas.
17
centímetros é a estimativa do impacto do aquecimento das águas dos mares no aumento do volume do nível médio das águas. Este valor não inclui o degelo dos glaciares.
2050
A população mundial vai passar dos actuais 6,8 mil milhões de habitantes para 9 mil milhões em 2050. Os países estão a ficar sem locais para alojar pessoas.
3
A temperatura média nas zonas de clima tropical aumentou mais de 0,75 graus desde 1975 e os modelos climáticos prevêem uma subida de mais de 3 graus.
5
As ovelhas selvagens da raça soay, na ilha escocesa de Hirtao, são em média 5% menores do que há 25 anos, influência das mudanças climáticas.
http://www.correiodamanha.pt/noticia.aspx?contentid=D255055A-E107-4C44-814B-267DD601C29D&channelid=00000219-0000-0000-0000-000000000219