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MensagemAssunto: Capitalismo   Capitalismo Icon_minitimeQua Jul 07, 2010 11:13 am

Capitalismo Capetalismo5%5B2%5D Depois de uma pausa maior
do que Eu gostaria, Capetalismo está de volta; espero Eu, que de
forma menos cheia de intervalos até cumprir sua missão original, que é
abordar todas as ferramentas no combate a inflação, e depois assumir um
tom mais livre, como as edições Addendum. O tema dessa edição é o
funcionamento dos bancos e de como eles influenciam no nosso cotidiano
financeiro. Mas antes, uma recapitulação rápida das outras
edições da coluna. Aprendemos o que é Inflação, o que a causa, e como
praticamente todos os esforços econômicos estatais são para contê-la,
pois ela é o problema financeiro que mais salta aos olhos dos eleitores.
Depois surgiram as armas do governo para impedi-la, começando com a
Política Fiscal, que cuida de controlar os impostos, os gastos públicos e
do crescimento do PIB. Depois veio os pormenores por trás da medição do
PIB e do IDH, e como eles se diferenciam. E chegamos onde estamos: a
Política Monetária, que basicamente cuida controle da Taxa Selic, os
juros-base, que também servem para (em última instância) controlar a
inflação através do encarecimento de crédito familiar. Também aprendemos
que o superávit primário é a grana que o governo separa da arrecadação
para pagar os juros da Dívida Interna, que é o montante que ele pegou
com os bancos. Caso não tenha lido os textos anteriores, se adiante e faço isso pra já!
Mas bancos não servem somente para guardar, emprestar e arranjar
coisas lucrativas para investir toda a grana que eles possuem. Tá bom, é
só pra isso, mas as formas que eles encontram para fazer isso são um
pouco mais variadas do que parecem. Primeiro, devemos entender o banco
como uma empresa normal, que visa o lucro, e está sujeita a regras
econômicas normais, como oferta e procura e essas coisas. Mas, ele tem
privilégios do governo para operar da forma que opera, e esse é o fato
que o coloca no vértice do sistema capitalista. Afinal, bancos são como
caixas-fortes do sistema, se eles se vão, todo o resto da economia vai
junto. Existem basicamente dois fatores independentes que
decidem sobre os juros e taxas cobradas pelos bancos: custos
operacionais e oferta. Os custos operacionais dizem respeito a gastos
com funcionários, infra-estrutura, maquinário altamente nada
avançado, cafezinho dos gerentes, empresas de transporte de valores...
essas coisas. Se o Banco do Brasil gasta, hipoteticamente, dois bilhões
de reais com custos operacionais, naturalmente ele vai querer ganhar o
dobro disso para cobrir outros itens importantes, como perdas - ou:
ricos dando calotes -, além de encher os bolsos dos seus executivos de
dinheiro. O segundo fator é a oferta. Quanto menos dinheiro disponível
na praça, mais ele vale, e, logicamente, vice-versa também rola. Esse
segundo fator é logicamente o que torna taxas variáveis (existem outros,
tipo ganância, mas esse é o mais importante). Pense num vendedor de
videogames. Ele tem uma loja videogames e jogos suficientes para atender
a demanda do mercado dele. Mas um Grande Comprador chega num belo dia e
compra 60% do estoque dele e de seus dois concorrentes do bairro, e o
número de videogames a serem vendidos diminui bastante. Naturalmente o
preço deles aumenta, pois a oferta de produtos diminuiu. O
mesmo rola com os bancos. A mercadoria deles é o próprio dinheiro.
Bancos não podem ficar sentados sobre a grana que possuem ou seus lucros
cairão bastante devido ao índice inflacionário, e eles precisam de
muito, MUITO dinheiro para fazerem as coisas se acertarem. Bancos são
intermediários, precisam "comprar" a mercadoria deles de nós, para
depois vendê-las para o governo, outros investidores e a própria
população. Eles precisam nos convencer que poupar nossa grana lá é
vantajoso, e por isso nos oferecem um preço: os juros das cadernetas de
poupanças, que é taxado pelo governo e é igual em todos os bancos. Mesmo
interessados nos correntistas que movimentam contas freneticamente, os
bancos estão de olho mesmo é nos poupadores, pois é dali que sai o
dinheiro que eles usam para emprestar. Por isso, existe uma certa
iniciativa para atrair dinheiro de poupadores - tipo de aposentados e
blogueiros -, pois essa grana deixa os bancos com fundos para
empréstimos realmente volumosos. Para a poupança ser minimamente
vantajosa, ela precisa cobrir os gastos das perdas com inflação - algo
em torno de 4,5% ao ano. Hoje ela está rendendo cerca de 1% ao mês, o
que permite um certo ganho para quem tem uma boa renda aplicada por lá.
Pois bem, para os bancos lucrarem, eles precisam cobrar pra emprestar a
grana da poupança mais do que dão de juros de rendimento por elas.
Nesse momento, os bancos cobram 3% de juros ao mês para empréstimos
dessa grana, o que dá dois pontos percentuais de ganhos para eles. Essa
diferença é chamada de spread bancário, e é o dinheiro que os
bancos usam para pagar seus custos operacionais, e retirarem os seus
lucros. Parece pouco, mas não é, estamos falando de bilhões de dólares e
reais. Esse spread é calculado pelo governo e divulgado
anualmente, como uma forma de mostrar a competitividade das instituições
bancárias. E tem outro fator, daqueles que nos deixam orgulhosos de
sermos brasileiros: o spread bancário brasileiro é o segundo
maior do mundo, e se soma a nossa taxa de juro básica, também uma das
maiores do mundo, conforme mostrou a Folha de São Paulo nessa reportagem
do dia 10/09/2009, da qual retirei o excerto abaixo: “O
‘spread’ (a diferença entre o que as instituições pagam para captar
recursos e o que cobram dos clientes) aplicado pelos bancos no Brasil é o
segundo maior do mundo, ficando apenas atrás do Zimbábue, apesar de a
taxa de inadimplência no país não estar nem entre as dez maiores do
planeta.
Segundo levantamento do Fórum Econômico Mundial com
base em dados do ano passado, o “spread” dos bancos brasileiros ficou em
35,6 pontos percentuais, maior do que a média das instituições
financeiras de 127 países. Somente o Zimbábue, cuja economia vive
situação caótica e onde a inflação chegou na casa dos 231 milhões por
cento em julho do ano passado, a diferença entre os juros captados e os
cobrados foi maior: 457,5 pontos percentuais (…) ’Spreads’ altos
significam custos maiores para empresas e consumidores pegarem
empréstimos.
Ao mesmo tempo, a
inadimplência no Brasil, que é uma das explicações usadas pelos bancos
para justificar os juros altos, era a 16ª mais alta do mundo, de acordo
com dados do FMI referentes ao quarto trimestre de 2008 – quando a crise
global estava em um dos seus momentos mais agudos. Os números do Fundo
mostram ainda que a taxa de inadimplência no país vem caindo nos últimos
anos“.
Outro excerto, de outra reportagem: "Anualmente,
a Fiesp faz um ranking de competitividade, conhecido como IC. Um dos
itens que o compõem é justamente o spread bancário. No estudo a entidade
usou dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) relativos a 2007. Os
números mostram que o Brasil liderava o levantamento, com spread médio
de 25,3 pontos porcentuais. Em um distante segundo lugar estava a
Colômbia, com 7,4 pontos, seguida pela França, com 7 pontos."
Fonte:
Agencia Estado Lindo, não?! Agora você já começa a entender
porque não tem dinheiro. Mas, vamos prosseguir... É aí que
entra o nosso tão estimado governo. Ele faz o papel diabólico do Grande
Comprador voraz de videogames do bairro, e encarece tudo. A necessidade
de neutralizar um mal - inflação - acaba por criar vários outros
gigantescos: concentração de renda, juros amortizadores, bancos
bilionários. E a gente, que trabalha de verdade, acaba por suportar todo
o peso das lambanças que a tabelinha Governo-Bancos fazem. O Governo é
covarde e oferece uma taxa realmente vantajosa para os bancos, chamada
Taxa Selic, a Mãe de Todos os Juros. O Governo pega boa parte da grana
dos bancos justamente para aumentar o spread, porque diminui a
quantidade de dinheiro disponível para que a população possa pegar
emprestado. E - repetindo o raciocínio da última coluna - essa grana que
ele pega emprestada gera a chamada Dívida Interna (atualmente em R$
1,239 TRILHÃO), que tem seus juros pagos através de diminuição de
investimentos em segurança, educação e saúde para gerar o superávit
primário. Resumindo: nos fudemos duas vezes! E isso independe do governo
ser do PT, do PSDB, ou de qualquer filhos da P--- que surgir por aí, a
merd* é sempre parecida (mas tem um fedor diferente, como veremos na
política cambial, abordando o Plano Real, câmbio fixo e outros
assuntos). Capitalismo Image%5B3%5D
Relação Selic e Juros para o consumidor Bom,
e quando o governo levou tudo e os bancos precisam de mais dinheiro
para poderem emprestarem para outros clientes? Simples, eles atraem
dinheiro pagando mais aos poupadores... e repassando tudo para os
clientes. É o clássico Você quer dinheiro? Tá escasso, vai ter que
pagar caro por ele...
Vejamos como funciona na prática. Se os bancos
realmente precisam de dinheiro, eles passarão a oferecer, por exemplo,
3% ao mês para a galera da poupança, gerando um aumento de 2%, e cobrar
5% dos que estão recebendo. O spread de 2 pontos continua ali,
reluzente, mas a lei da oferta fez o preço se elevar, e naturalmente o
cliente final engoliu tudo, pois provavelmente não conseguiu nada mais
vantajoso nos concorrentes. Então, aquele papo que mandam por
aí que a inadimplência é o principal fator dos juros serem tão altos, é
verdadeiro somente em empréstimos onde não existe contratos com
avalistas, como cartão de crédito e cheque especial. Em casos de
financiamentos, é a disponibilidade de grana no mercado que diz o quanto
vai rolar de juros pra você. E nossos bancos dão de chapéu nos bancos
de outros países, com spreads dez vezes mais altos e taxas de
lucros absurdamente astronômicas - ao menos eles não se envolvem em
crises, como os americanos e europeus. Mas, existem
outras formas dos bancos trabalharem com dinheiro, como fundos CDB,
renda fixa, mercado imobiliário e ações (em breve falaremos de bolsa de
valores). Nesses casos, ele é apenas um atravessador, uma espécie de
consultor, que guia seu dinheiro para bons negócios - e lucra com isso,
claro. Parte dessas operações são também responsáveis pela concentração
de renda aguda do Brasil, e é isso que aprenderemos na Parte II do nosso
aprendizado sobre os bancos. Referências
Tabela
com os ganhos da poupança | Matéria da Folha de São Paulo [Via
Blog
Kantega
]
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MensagemAssunto: Re: Capitalismo   Capitalismo Icon_minitimeQua Jul 07, 2010 11:14 am

Capitalismo Image%5B6%5D
Arte de Alex Ross, capa da minissérie The Uncle Sam
Quem lê o NSN a certo tempo sabe que prezamos pela criação de
conteúdo próprio. Mesmo utilizando fontes externas de fatos conhecidos
para criar boa parte dos nossos textos, geralmente buscamos dar nossa
opinião e visão sobre o que estamos escrevendo. Mas, ultimamente, mesmo
com menos tempo livre do que gostaria, ando lendo bastante o Protopia Wiki, o site com alguns dos
melhores textos da web, e gosto de compartilha-los de forma integral,
sem comentários ou alterações, no máximo com uma introdução.
E
no sábado a noite, enquanto escrevia um texto sobre o
Pirate Bay
para a NSN Magazine (em breve, novidades sobre ela), achei esse texto
brilhante do
Noam Chomsky sobre a atribuição de
“polícia internacional” que os EUA auto-assumiram após a Guerra Fria.
Mesmo sendo um pouco antigo - apesar de não constar data, creio ser ele
do ano 2000-2001 - creio ser esse artigo bastante válido para
entendermos um pouco mais sobre a atual escalada de tensão do Irã, que
após a capitulação iraquiana, foi eleito o novo mal supremo do mundo
pelos americanos.
E
se o 'Bandido' fosse os Estados Unidos da América?

Noam Chomsky O conceito de "Estado-bandido"(1) ou Estado
fora-da-lei teve, nos últimos tempos, um papel primordial na análise e
na estratégia política norte-americana. O exemplo mais conhecido(2) é a
crise iraquiana, que dura exatamente há 10 anos (a invasão do Kuait pelo
Iraque data de 1° de agosto de 1990). Na época, Washington e Londres
decretaram ser o Iraque um "Estado-bandido", que constituía uma ameaça
aos seus vizinhos e aos demais países; uma "nação fora-da-lei", dirigida
por uma reencarnação de Hitler, e que devia ser mantida em xeque pelos
guardiães da ordem internacional: os Estados Unidos e seu fiel escudeiro
britânico. A característica mais interessante deste debate
sobre os "Estados-bandidos" é precisamente nunca ter ele acontecido. As
discussões ficam circunscritas a limites que impedem a formulação de uma
resposta evidente: que os Estados Unidos e a Grã-Bretanha devem agir de
acordo com suas leis e com os tratados internacionais que assinaram.
Enquadramento legal O enquadramento legal
pertinente ao caso ê baseado na Carta das Nações Unidas, fundamento do
direito internacional, e, para os Estados Unidos, na Constituição
norte-americana. A Carta estipula que "uma vez constatada a existência
de uma ameaça contra a paz, de uma ruptura da paz ou de um ato de
agressão, o Conselho de Segurança pode decidir as medidas a serem
tomadas que não impliquem o uso da força armada. Caso tais medidas se
revelem inadequadas, o Conselho poderá empreender qualquer ação que
julgue necessária à manutenção ou ao restabelecimento da paz e da
segurança internacionais". A única exceção admitida está no Artigo 51:
"Nenhuma disposição da presente Carta causa prejuízo ao direito natural
de legítima defesa, individual ou coletiva, caso um país membro das
Nações Unidas seja objeto de uma agressão armada, até que o Conselho de
Segurança tenha tomado as medidas necessárias para, manter a paz e a
segurança internacionais." Agindo por conta própria
Existem, portanto, vias legítimas de recurso para fazer frente às
diversas ameaças que pesam contra a paz mundial, e nenhum Estado tem
autoridade para agir por sua própria conta, através de medidas
unilaterais. Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha não são exceções à
regra, mesmo que tivessem as mãos limpas, o que está longe de ser o
caso. Os "Estados-bandidos" não aceitam tais condições: como o Iraque de
Saddam Hussein, por exemplo, ou os Estados Unidos. Dessa forma, por
ocasião do primeiro confronto com o Iraque, a atual secretária de Estado
Madeleine Albright, que na época era embaixadora dos Estados Unidos
junto à Organização das Nações Unidas (ONU), declarou sem
constrangimento ao Conselho de Segurança: "Agiremos de forma
multilateral, quando pudermos, e unilateralmente, quando julgarmos
necessário", pois "consideramos a área do Oriente Médio de vital
importância para os interesses nacionais dos Estados Unidos." ONU
avalizou acordo de paz Essa posição foi reiterada pela secretária de
Estado em fevereiro de 1998, quando o secretário-geral da ONU, Kofi
Annan, se encontrava numa missão diplomática em Bagdá: "Nós lhe
desejamos boa sorte, e quando ele voltar veremos se o que ele traz é
compatível com nossos interesses nacionais." Quando Annan anunciou que
fora alcançado um acordo com Sadam Hussein, o presidente Bill Clinton
declarou, por sua vez, que se o Iraque não se conformasse - sendo
Washington o único juiz da questão -, "todo o mundo compreenderia que os
Estados Unidos e, assim espero, todos os nossos aliados, teríamos o
direito unilateral de responder no momento, no lugar e da maneira da
nossa escolha". O Conselho de Segurança da ONU endossou por
unanimidade o acordo assinado por Annan, rejeitando a exigência de
Londres e Washington de serem autorizados a utilizar a força, caso o
acordo não fosse cumprido. Nessa hipótese, a resolução do Conselho
indicava que o Iraque se exporia "às mais graves conseqüências", sem
maior precisão. O Conselho decidiu ainda permanecer no controle da
situação. Nos termos da Carta das Nações Unidas, tratava-se exclusiva e
tão-somente do Conselho de Segurança(3). Senhores da guerra
Washington fez uma leitura completamente diferente desse
texto, que no entanto nada tem de ambíguo. Segundo 0 embaixador William
Richardson, o acordo alcançado "não impedia o uso unilateral da força" e
os Estados Unidos conservavam o direito legal de atacar Bagdá quando
bem entendessem. Clinton, por sua vez, declarou que a resolução do
Conselho de Segurança lhe "conferia autoridade para agir" - por meios
militares, precisou seu assessor de imprensa - em caso de desrespeito
por parte do Iraque dos compromissos assumidos. No Congresso, certos
eleitos consideraram que esta posição oficial ainda era por demais
respeitosa do direito nacional e internacional. O republicano Trent
Lott, por exemplo, líder da maioria no Senado, denunciou o governo de
Clinton por ter "subcontratado" sua política externa "a outros" - quer
dizer, ao Conselho de Segurança. Seu colega John Kerry, outrora "pomba
da paz", acrescentou que a invasão do Iraque pelos Estados Unidos seria
"legítima", caso Saddam Hussein "se obstinasse em violar as resoluções
da ONU". Desprezo pelo direito internacional O
desprezo pela primazia do direito está profundamente enraizado na
cultura intelectual e nas práticas norte-americanas. Basta recordar,
entre outros exemplos, a reação de Washington à sua condenação pela
Corte Internacional de Justiça de Haia, em 1986. Os Estados Unidos foram
então condenados por "uso ilegal da força" contra a Nicarágua
sandinista, intimados a pôr fim às suas atividades clandestinas a
serviço dos "Contra" anti-sandinistas, e ainda a pagar indenizações ao
governo legal de Manágua(4). Essa decisão da mais alta instância
judiciária internacional provocou um furacão de protestos nos Estados
Unidos. A Corte foi acusada de ter se "desacreditado", e seu parecer,
julgado indigno de ser publicado, não foi absolutamente levado em conta.
Muito pelo contrário: a maioria democrata no Congresso imediatamente
autorizou a liberação de novos fundos para os terroristas do "Contra".
Numa declaração de abril de 1986, o secretário de Estado George Schultz
havia formulado de maneira clara a doutrina norteamericana sobre a
questão: "A palavra negociação é um eufemismo para capitulação, se a
sobra do poder não se projeta sobre o campo de diálogo", explicou,
condenando os que defendiam "meios utópicos, legalistas, tais como a
mediação por terceiros, a ONU e a Corte de Haia, sem considerar na
equação o elemento poder." A "agressão interna" O desprezo
escancarado pelo artigo 51 da Carta das Nações Unidas é particularmente
revelador. Tivemos um exemplo muito claro depois dos acordos de 1954 que
puseram fim à primeira guerra da Indochina, conduzida pela França.
Foram considerados um "desastre" por Washington, que logo se dedicou a
sabotá-los: o Conselho Nacional de Segurança decidiu secretamente que
"em caso de rebelião ou de subversão comunistas locais que não
constituíssem ataque armado", os Estados Unidos considerariam o uso da
força, inclusive contra a China, identificada como "a fonte da
subversão". O mesmo documento preconizava a remilitarização do Japão e a
transformação da Tailândia no "ponto focal das operações clandestinas e
de guerra psicológica no Sudeste asiático"(5), especialmente na
Indochina, ou seja, Vietnã(6). Posteriormente, o governo norte-americano
iria dar a sua definição do conceito de agressão, incluindo o "combate
político ou a subversão" - entenda-se: por parte de outros países, que
não eles próprios. E o artificio utilizado pelo senador democrata Adlai
Stevenson, que invocou uma "agressão interna" para justificar a escalada
militar do presidente John Kennedy que iria levar a um ataque de grande
envergadura no Sul da península e, conseqüentemente, à longa guerra do
Vietnã. Para justificar diante do Conselho de Segurança a invasão do
Panamá por tropas norte-americanas em dezembro de 1989, o embaixador
Thomas Pickering invocou o artigo 51 da ONU: tratava-se, segundo ele, de
impedir que o território desse país "fosse utilizado como base para. o
tráfico de drogas destinadas aos Estados Unidos". Entre a "opinião
esclarecida" ninguém contradisse essa interpretação. O
direito à "legítima defesa"
Em junho de 1993, o presidente
Clinton alcançou grande sucesso no Congresso e na imprensa quando
ordenou um ataque de mísseis contra o Iraque, ataque que deixou grande
número de vítimas civis. Os comentadores ficaram particularmente
impressionados com o recurso de Albright ao famoso artigo 51: os
bombardeios constituíam "um ato de legítima defesa contra um ataque
armado", disse ela, referindo-se a uma pretensa tentativa de assassinato
contra o presidente George Bush, ocorrida dois meses antes!
Responsáveis pela administração, expressando-se em anonimato, informaram
os jornalistas que "esse julgamento sobre a culpabilidade do Iraque
baseava-se em provas e análises circunstanciais, e não em informações
concretas" - o que não impediu que a imprensa saudasse com unanimidade a
utilização do famoso artigo 51. Na Câmara dos Comuns, na Grã-Bretanha, o
secretário de Relações Exteriores, Douglas Hurd, também defendeu esse
"exercício justificado e comedido do direito à legítima defesa". Um tal
balanço parece dar razão a todos os que, mundo afora, se preocupam com a
existência de "Estados-bandidos", prontos a usar a força em nome de um
"interesse nacional" definido somente pelos jogos de poder internos; e
com a existência ainda mais inquietante de "Estados-bandidos" que se
erigem em árbitros e carrascos em escala planetária. Um
"Gulag norte-americano"
O que viria, então, a ser um
"Estado-bandido"? A idéia subjacente a essa formulação é que, embora
terminada a guerra fria (1947-1989), os Estados Unidos conservam a
responsabilidade de proteger o mundo. Mas proteger de quem? A
"conspiração monolítica e impiedosa" de J. R Kennedy e o "império do
mal" tão caro a Ronald Reagan já se acabaram. E preciso encontrar novos
inimigos(7). Dentro do país, o medo da criminalidade - e em particular
da droga - foi estimulado por "uma, série de fatores que pouco ou quase
nada têm a ver com o crime propriamente dito". Essa é a conclusão da
Comissão Nacional de Justiça Criminal, que cita o comportamento dos
meios de comunicação, além do "modo como o Estado e a indústria privada
produzem medo nos cidadãos", "explorando, com fins políticos, as tensões
raciais latentes." E ressalta o preconceito racial existente na polícia
e na justiça, que arrasa comunidades negras e cria um "abismo racial",
colocando o país sob "O risco de uma catástrofe social". Criminologistas
descrevem o resultado como um "Gulag norte-americano", um "novo
apartheid", com a população carcerária atingindo, pela primeira vez na
história dos Estados Unidos, cerca de dois milhões de detentos, em sua
maioria (!) sendo afro-americanos. O índice de presidiários negros é
sete vezes maior que o de brancos, sem qualquer relação com o índice de
detenções, que por sua vez não tem relação alguma com os números reais
de uso ou de tráfico de drogas(Cool. Teoria do louco
No exterior, os perigos seriam o "terrorismo internacional", os
"narcotraficantes hispânicos" e, o mais grave de todos, os
"Estados-bandidos". Um estudo secreto, datado de 1995, e tornado público
recentemente graças à lei sobre liberdade de informação, delineava em
linhas gerais a abordagem estratégica na aurora do novo milênio. Feito
pelo Strategic Command, responsável pelo arsenal nuclear estratégico, e
intitulado Essentials of Post Cold War Deterrence (Princípios básicos de
dissuasão no pós-guerra fria), o estudo mostra, segundo a agência
Associated Press, "como os Estados Unidos modificaram sua estratégia de
dissuasão, substituindo a União Soviética pelos Estados ditos ‘bandidos’
ou ‘fora-da-lei’: Iraque, Irã, Líbia, Síria, Cuba e Coréia do Norte".
Recomenda ainda que os Estados Unidos explorem seu potencial
nuclear para projetar de si uma imagem "irracional" e "vingativa" no
caso de ameaça aos seus interesses nacionais. "É prejudicial nos
mostrarmos como pessoas razoáveis, racionais e de sangue-frio" e, pior
ainda, como respeitadores de bobagens tais como o direito e os tratados
internacionais. "Que alguns elementos" do governo federal "possam
parecer potencialmente loucos, incontroláveis, pode contribuir para
criar ou reforçar medos e apreensões nas mentes dos nossos adversários."
Esse relatório ressuscitava a "teoria do louco" de Richard Nixon: os
inimigos dos Estados Unidos devem compreender que estão diante de
desequilibrados, de comportamento imprevisível, e que dispõem de uma
enorme capacidade de destruição. O medo os conduziria, dessa forma, a se
dobrarem às vontades norte-americanas. Esse conceito havia sido
desenvolvido em Israel nos anos 50 pelo governo trabalhista, cujos
dirigentes "pregavam atos de loucura", como escreveu em seu diário
pessoal o ex-primeiro ministro Moshe Sharett. O conceito dirigia-se
então, até certo ponto, contra os Estados Unidos, que na época não eram
considerados suficientemente confiáveis. Retomada pela única
superpotência atual, que se considera acima da lei e sofre poucos
constrangimentos por parte de suas próprias elites, temos de admitir que
essa teoria coloca um sério problema ao resto do mundo. Criando
novos inimigos
Desde o começo do governo Reagan, em 1980,
a Líbia foi designada como 0 "Estado-bandido" por excelência.
Vulnerável e sem meios de se defender, esse país é de fato um saco de
pancadas per feito. Em 1986, por exemplo, o bombardeio de Trípoli terá
sido o primeiro da história programado para transmissão por televisão,
ao vivo e em tempo real, para que os escreventes dos discursos do
"Grande Comunicador" Reagan pudessem mobilizar a opinião da multidão em
favor dos ataques terroristas de Washington contra a Nicarágua. O
pretexto? O "superterrorista" Khadafi tinha "enviado 400 milhões de
dólares e todo um arsenal para Manágua, com o objetivo de levar a guerra
para dentro dos Estados Unidos", que exerciam seu direito de legítima
defesa contra a agressão armada desse "Estado-bandido" que era a
Nicarágua sandinista. Imediatamente após a queda do muro de Berlim, em
1989, que pôs fim à ameaça soviética, o governo de George Bush submeteu
ao Congresso seu pedido anual de um gigantesco orçamento para o
Pentágono: "Nessa nova era que se anuncia (...) o emprego de nossas
forças provavelmente não envolverá mais a União Soviética, e sim,
talvez, o Terceiro Mundo, onde será certamente necessária uma nova
conduta e novos procedimentos." Acrescentou que os Estados Unidos
deveriam manter forças consideráveis de intervenção, especialmente
destinadas ao Oriente Médio, onde "as ameaças contra os nossos
interesses", que exigem intervenções militares diretas, "não podem ser
debitadas ao Kremlin". Ao contrário, diga-se de passagem, de uma
ladainha sem fim de inverdades difundidas durante 40 anos pela
propaganda norte-americana, hoje em dia mortas e enterradas. Onda
de ira contra os EUA
Na época, as ameaças contra os
interesses norte-americanos também não podiam mais ser debitadas ao
Iraque, uma vez que Saddam Hussein - que fazia então a guerra contra, o
Irã do aiatolá Khomeini - era um amigo cortejado e parceiro comercial de
Washington. Seu estatuto, porém, mudaria completamente poucos meses
depois quando, em julho de 1990, interpretou mal o consentimento
norte-americano para mudar à força suas fronteiras com o Kuait,
entendendo-o como uma autorização para invadir todo o país(9). Ou, na
perspectiva do governo Bush, para repetir o que os Estados Unidos
acabavam de fazer no Panamá, em dezembro de 1989. Os paralelos
históricos no entanto, nunca são exatos. Quando Washington se retirou
parcialmente do Panamá, após ter instalado ali um governo-fantoche, uma
onda de ira rebentou em todo o hemisfério, inclusive no Panamá. Uma onda
de ira que chegou mesmo a fazer a volta ao mundo, obrigando Washington a
apor seu veto a duas resoluções do Conselho de Segurança da ONU e a se
pronunciar contra uma resolução da Assembléia Geral que condenava "a
violação flagrante do direito internacional e da independência, da
soberania e da integridade territorial dos Estados" exigindo a retirada
"do corpo expedicionário norteamericano" do Panamá. Uma
terapia de choque
O que alimenta a reflexão de analistas
políticos, como por exemplo Ronald Steel, que se questionava sobre o
"enigma" com que se deparavam os Estados Unidos: "Como nação mais
poderosa do mundo, vêem a sua liberdade de empregar a força submetida a
mais constrangimentos do que qualquer outro país." Daí o êxito
(temporário) de Saddam Hussein no Kuait, em agosto de 1990, em
comparação com a incapacidade de Washington de impor sua vontade no
Panamá. Antes do Iraque, Irã e Líbia lideravam a lista dos
"Estados-bandidos". Outros, no entanto, jamais figuraram nela. A
Indonésia é um bom exemplo: transformou-se de inimigo em amigo quando o
general Suharto tomou o poder em 1965, ,após um banho de sangue muito
aplaudido no Ocidente(10). Suharto iria rapidamente tornar-se "o nosso
tipo de cara" (our kind of guy) por retomar uma fórmula do governo
Clinton, enquanto cometia agressões mortais e atrocidades sem conta
contra seu próprio povo. Somente nos anos 80, contam-se 10 mil
indonésios mortos pelas forças da ordem, segundo o testemunho pessoal do
ditador, que explica também que "deixamos os cadáveres espalhados, como
uma espécie de terapia de choque."(11) "Bandidos"
bonzinhos
Mas ainda em dezembro de 1975 o Conselho de
Segurança da ONU havia intimado a Indonésia a retirar "com urgência"
suas tropas, que haviam invadido o Timor Leste, antiga colônia
portuguesa, e pedido que "todos os Estados respeitassem a integridade do
Timor-Leste, bem como o direito inalienável de seus habitantes à
autodeterminação". Os Estados Unidos iriam responder a essa decisão das
Nações Unidas aumentando secretamente as remessas de armas aos
agressores. O então embaixador da ONU, Daniel Patrick Moynihan, se diz
orgulhoso, em suas memórias, por ter tornado as Nações Unidas
"totalmente ineficazes, em quaisquer que fossem as medidas que tomassem"
no que se referia à Indonésia. E isso, seguindo as instruções do
Departamento de Estado, "que desejava que as coisas evoluíssem como
evoluíram e trabalhou para tal". Washington também aceitaria
tranqüilamente o roubo do petróleo do Timor (com a participação de uma
companhia norte-americana), apesar da transgressão da legalidade que
isso representava e em detrimento de qualquer interpretação razoável dos
acordos internacionais. A analogia entre as situações do Timor-Leste e
do Kuait é bastante próxima, mas há algumas diferenças. Para falar
apenas da mais evidente: as atrocidades cometidas - com a bênção
norte-americana - pelo regime indonésio na ilha do Timor, ultrapassam em
muito qualquer coisa atribuída ao Iraque no seu vizinho(12). Isso,
porém, não fez da Indonésia, na lista de premiados estabelecida por
Washington, um "Estado-bandido" "Bandidos" desobedientes
Não foram os crimes cometidos por Saddam Hussein contra seu próprio
povo, nem sobretudo a utilização - perfeitamente conhecida pelos
serviços secretos norte-americanos - de armas químicas contra civis, que
metamorfosearam o ditador em "monstro de Bagdá". Antes da invasão do
Kuait, os Estados Unidos haviam lhe dado um apoio tão certo que até
deixaram passar o ataque da força aérea iraquiana contra o navio de
guerra USS Stark (que fez 37 vítimas entre os marinheiros
norte-americanos), um privilégio restrito até então a Israel (no caso de
seu ataque "por engano" ao USS Liberty, em junho de 1967, que deixou 34
mortos). Eles haviam coordenado com Saddam Hussein a campanha
diplomática, militar e econômica que levou, em 1989, à capitulação do
Irã "diante de Bagdá e Washington", como escreveu o historiador Dilip
Hiro. Tinham até encomendado a Saddam Hussein os serviços
habituais de Estado vassalo: por exemplo, treinar centenas de
mercenários líbios recrutados por norteamericanos para derrubar o
coronel Khadafi, como revelou Howard Teicher, um ex-assessor de
Reagan(l3). Se Saddam Hussein caiu para o lado dos "Estados-bandidos",
foi porque saiu da linha e se mostrou desobediente, do mesmo modo que o
criminoso de menor envergadura Manuel Noriega, do Panamá, cujos
principais crimes foram cometidos enquanto estava a serviço - remunerado
- de Washington. Cuba foi classificada na categoria por sua presumida
implicação no "terrorismo internacional", mas não os Estados Unidos,
que, no entanto, durante quase 40 anos, fizeram múltiplos ataques
terroristas à ilha caribenha e diversas tentativas de assassinar Fidel
Castro. O Sudão foi também classificado como "Estado-bandido", embora
não os Estados Unidos, que em agosto de 1998 bombardearam ali uma
suposta fábrica de armas químicas, que depois foi provado tratar se de
uma indústria farmacêutica, como afirmavam as autoridades de
Cartum...(l4) Vê-se que o conceito de "Estado-bandido", hoje em dia
oficialmente abandonado, foi particularmente flexível. Enfim, os
critérios eram perfeitamente claros: um "Estado-bandido" não era
simplesmente um Estado criminoso, mas um Estado que não se dobrasse as
ordens dos poderosos, eles mesmos, evidentemente, poupados desta
classificação difamatória. 1) A expressão
"Estado-bandido" (rougue state, em inglês) perdeu sua razão de ser –
declarou o porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher, -
porque muitos desses países corrigiram suas condutas. Foi substituída
por "Estado fonte de Preocupação" (state of concern, em inglês. Esta
modificação de terminologia, no entanto, não afeta as sanções contra os
referidos Estados. Cf. Le Monde, 21 junho de 2000.
[Restante
das referências no texto original]
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MensagemAssunto: Re: Capitalismo   Capitalismo Icon_minitimeQua Jul 07, 2010 11:15 am

Capitalismo Image%5B3%5D Ontem, a minha
querida
Nane
Ulsan
, meio que sem querer, iniciou uma discussão no
Twitter. Ela
retwittou
um
twitt do Rodrigo
Quarto Sinistro
, que dava a entender que abortar um embrião
de três semanas não era equivalente a matar uma vida - ou, entrando
ainda mais na questão, é direito da mulher e do homem que realizaram a
transa que resultou na fecundação, escolher sobre o destino dele até
certo ponto da gestação. O
Gabriel Dread,
um dos maiores amigos do NSN e defensor ferrenho da liberdade, deu sua
opinião sobre o tema, e observou que o Estado, como instituição, cria
leis no sentido de presumir que pessoas são más, tornando o tema ainda
mais abrangente.
Em outras palavras: os grilhões que o
Estado cria no sentido de reprimir a população - inclusive no que tange
aos crimes sem vítimas (e o aborto, tecnicamente, seria um deles, assim
como uma tentativa de suicídio ou uso de drogas) - seriam uma forma de
mantê-la como cordeiros amestrados, e não como indivíduos livres e
pensantes. As leis seriam nada mais que ferramentas de manter o poder
(lembra do post sobre os Sofistas? Então, é nessa linha…).

Até aí tudo bem, todo o ser livre e inteligente já deve ter
refletido sobre o assunto. Mas, as twittadas do Gabriel me lembraram de
um texto impactante e bastante interessantes, escrito pelo advogado
criminal, e anarquista,
Bob
Black
, que mostra essa perturbadora constatação do Estado
sob uma ótica repressora, discorrendo sobre o papel da Guerra no
fortalecimento do poder público, especialmente na moderna guerra contra
as drogas.
O texto é um pouco longo, mas vale bastante
a pena. A fonte dele, bem como a tradução e a introdução em itálico
abaixo, é do Protopia Wiki, que já foi tema de dois
posts nossos, e reúne diversos artigos sobre o Anarquismo e Subversão.


Será a Guerra -
contra a Droga - a Saúde do Estado?
Neste
momento, nos Estados Unidos da América, 2.700.000 pessoas estão presas
(o maior índice per capita do mundo). Todas as semanas são mais 1.600 as
pessoas que entram na prisão para além das que saem. Mais de 40% dos
presos estão lá por crimes não-violentos relacionados com drogas. Nas
políticas da maioria dos governos do mundo o combate à droga assume
crescente protagonismo. O seguinte artigo, escrito por Bob Black –
anarquista e advogado de profissão –, lança uma visão diferente sobre
este fenômeno. Ainda que baseada no contexto norte-americano, com
ajustes de pormenor e de escala, a argumentação poderá ser extrapolável a
outros países.
Ninguém alguma vez fez
observação mais importante em sete palavras do que Randolph Bourne: “A
guerra é a saúde do estado” (Resek, 1964 :71). A guerra tem sido o motor
principal da extensão do poder estatal na Europa ao longo de 1000 anos,
e não só na Europa. A guerra alarga o estado e aumenta a sua riqueza e
os seus poderes. Promove obediência e justifica a repressão sobre
dissidentes, redefinida como deslealdade. Serena tensões sociais
dirigindo-as para fora, para um estado inimigo que simultaneamente faz,
claro, exactamente o mesmo com semelhantes consequências. Da perspectiva
do estado há só uma coisa errada nas guerras: elas terminam. Que
as guerras terminam é, em última análise, mais importante do que o
facto de elas terminarem em vitória ou derrota. Ocasionalmente a derrota
tem como consequência a destruição do estado, como aconteceu com os
impérios Otomano e Austrohúngaro após a Primeira Guerra Mundial, mas não
frequentemente, e mesmo quando isso sucede, esses estados dão origem a
outros estados. O sistema estatal não só dura, como prevalece.
Normalmente a guerra vale bem o risco — não para os combatentes ou para
os civis sofredores, claro, mas para o estado. A paz é, mais
uma vez, um outro assunto. A consequência imediata poderá ser a recessão
ou a depressão, como após a Revolução Americana ou a Primeira Guerra
Mundial, cujas dificuldades são tão mais humilhantes quando recaem sobre
a população que “ganhou” a guerra e que ingenuamente supõe ir partilhar
os frutos de uma vitória que pertence ao estado, não ao povo. O regime
pode prolongar artificialmente o clima de repressão e sacrifício, como
fizeram os Estado Unidos fabricando o Red Scare (Pânico Vermelho) após a
Primeira Grande Guerra, mas cedo o povo suplicaria por aquilo que
Warren Harding lhe prometera, o regresso à normalidade. Os vencidos, é
certo, raramente se saem tão bem como o Japão ou a Alemanha ocupadas se
saíram após a Segunda Guerra Mundial, mas mesmos os alemães inicialmente
conheceram a fome. Houve épocas em que alguns estados estavam
quase sempre em guerra, como acontecia na Roma republicana, cujas
oligarquias, tal como Livy (1960) repetidamente demonstrou, estavam bem
conscientes de como a guerra consistia numa válvula de escape para
dissipar conflitos de classe. As guerras coloniais servem bem este fim
já que são travadas longe de casa e normalmente empreendidas contra
antagonistas que, apesar de corajosos, são largamente inferiores em
termos militares. O império britânico nos séculos dezoito e
dezanove é um bom exemplo. Congestionados com a riqueza do capitalismo
comercial (em breve inimaginavelmente engrandecida pela revolução
industrial), seguros pela sua insalubridade, escudados pela maior armada
do mundo, com uma robusta e desumana classe dirigente, sábia da arte de
governar, o estado britânico poderia suportar uma guerra quando dela
precisasse. Existiam, no mercado, completos mercenários, tais como os
Hessianos. E os inimigos de ontem eram as tropas de hoje. Os irlandeses,
repetidamente esmagados no século dezessete, eram uma fonte. Começando
em 1746, os ingleses aniquilariam a sociedade e a cultura dos escoceses,
recrutando depois regimentos de entre os que sobreviveram. Viriam a
repetir estes “métodos econômicos” na Índia, em África, em todo o lado. E
depois existiam as fontes ingleses de dispensáveis: os camponeses
expulsos das terras pelo emparcelamento, e os pobres da cidade. Não
deixariam saudades, e havia sempre mais de onde estes vieram. Mas
os tempos mudaram. Alguns estados possivelmente podem continuar, por
algum tempo, agindo à moda antiga – talvez a Sérvia, Coreia do Norte,
Iraque – mas os Estados Unidos não, no mínimo por duas razões: somos
demasiado escrupulosos, e somos demasiado pobres. Demasiado escrupulosos
no sentido em que, enquanto Saddam Hussein se vangloriou antes da
segunda Guerra do Golfo*, a América é uma sociedade que não consegue
tolerar 10.000 mortos. Ele tinha razão, embora isso não lhe tenha valido
de nada já que foi incapaz de infligir 10000 ou mesmo 1000 mortos.
Granada e Panamá foram um divertimento, mas mesmo guerras de dois
tostões como o Líbano e Somália já não o foram, e ninguém tem mais
estômago para uma guerra no Haiti ou na Bósnia. Os americanos estão a
perder rapidamente o seu gosto por guerras mediáticas, para já não falar
das verdadeiras guerras. E demasiado depauperados para
qualquer guerra suficientemente longa para produzir um efeito durável no
índice de popularidade de um qualquer presidente. O ataque ao Iraque
foi o ponto de viragem. Como habilidosamente a manipulação das massas
ocorreu, os americanos somente foram para a frente com a guerra na
condição de que os “aliados” pagassem. Mesmo mentes pouco capacitadas
estão conscientes que a parte de leão dos seus impostos federais vai
para pagar dívidas de guerra e gastos militares dos quais eles nunca
colherão quaisquer benefícios. A contrapartida para as vidas numa
fotogênica guerra de alta tecnologia é dinheiro. Custa mais, imensamente
mais, do que alguma vez a guerra custou. Mas os Estados Unidos não têm
mais, imensamente mais riqueza do que alguma vez tiveram. Têm
progressivamente menos e menos e menos. Mesmo com as forças
maciças da ABC, NBC, CBS, CNN e todo o resto dos grandes media por
detrás (Black, 1992), e apesar de uma esmagadora vitória que deveu tanto
à sorte como ao engenho, George Bush tornou-se o primeiro presidente
americano a ganhar uma guerra e a perder uma eleição — para um fumador
de erva e mulherengo que não cumpriu o serviço militar. Deste
modo o regime é apanhado no que os marxistas costumavam chamar de
“contradição”. Precisa de guerra, já que a guerra é a saúde do estado,
mas (com efémeras excepções ocasionais) não consegue suportar tanto
ganhar como perder guerras. Mas que tipo de guerra é possível travar,
com um custo tolerável, que evite esta dupla armadilha — uma guerra que
não possa ser ganha ou perdida? A “Guerra Contra a Droga”. Que
não é uma verdadeira guerra, claro, mas apenas aquilo que os alemães
chamariam um “sitzkrieg”, uma falsa guerra. Antes venderam-nos a guerra
para acabar com todas as guerras. Agora vendem-nos uma guerra
interminável. Tal é a utilidade, para o estado, da Guerra
Contra a Droga. Não pode ser perdida, já que não existe um inimigo a
derrotar. E por incontáveis razões não pode ser ganha. O governo não
consegue interditar mais do que uma fração da cocaína, heroína,
marijuana e outras drogas que, ao ilegalizálas, o governo fez subir o
seu preço até ao ponto de valer a pena traficá-las. E alguma droga, tal
como a marijuana e o ópio, é facilmente produzida dentro dos Estados
Unidos. Dezenas de milhões de americanos já se entregaram ao consumo de
drogas ilegais, incluindo o Presidente. Os filhos não vêem qualquer
razão para não experimentar aquilo que os pais já consumiram,
independentemente daquilo que os pais agora preguem. As crianças tendem a
não prestar atenção aos pais quando sabem que estes estão a mentir.
Para além disso, há sempre o álcool. E nos subúrbios, tal como
nos guetos, ilegalizar as drogas fez disparar o seu preço até níveis tão
altos que prendendo vendedores não tem qualquer efeito no lado da
oferta. Tirar um vendedor de droga das ruas apenas abre uma vaga para
outro empresário. Na verdade, é prática corrente dos vendedores fazer
com que os seus competidores sejam presos, com o fim de ganharem uma
parcela adicional de competitividade. Mas não faz mais diferença quem
trafica a droga ou quem dirige o estado. De facto, até podem ser as
mesmas pessoas! A Guerra Contra a Droga é a saúde do estado. Porque
apenas é uma falsa guerra, a Guerra Contra a Droga é fiscalmente
comportável. O governo pode gastar tanto mais ou tanto menos quanto
desejar, já que o resultado será sempre o mesmo. Mesmo os custos para o
contribuinte são disfarçados, divididos como são por governos federais,
regionais e locais, e confundidos com financiamento ao sistema de
justiça. A maior despesa individual, as prisões, é aquela que a maior
parte das pessoas erradamente interpretam como a melhor coisa que o
governo faz por elas. Suportar este erro é um equívoco acerca sobre qual
é o produto do sistema de justiça criminal. Não é o controlo do crime,
se é que tal pudesse ser medido com alguma exactidão, não há qualquer
prova de que a imposição da lei em geral reduza o crime (Jacob, 1984). O
produto são índices de criminalidade (Black, 1970), que são uma função,
não do nível de criminalidade, mas do nível de imposição da lei. Daí
que as autoridades possam fabricar uma “onda de criminalidade” se
quiserem mais dinheiro, ou abrandar o controlo se quiserem obter algum
crédito por fazerem exatamente o oposto. Tirando eles próprios e os seus
superiores hierárquicos, os únicos beneficiários daqueles 100 000
polícias adicionais que o Presidente Clinton quer colocar nas ruas serão
os vendedores de donuts. Para além disto, até um certo ponto a
Guerra Contra a Droga paga-se a si mesma. Tal como os exércitos que
costumavam subsistir largamente “através do terreno”, pilhando as zonas
que atravessavam, também os guerreiros da droga amontoam os seus cofres
com o saque de bens confiscados. E isto só a nível formal e legal. À
margem da lei, claro que a polícia sempre confiscou muito mais droga do
que aquela que chega à sala de provas. É improvável que os vendedores ou
os drogados protestem (o cenário clássico: um polícia faz uma busca
ilegal na rua. Ele encontra algo. Pergunta, com cortesia, “Isto é seu?” e
a resposta é sempre “Não”). Alguma droga a polícia vende por sua conta.
Alguma consomem-na eles próprios. E alguma utilizam para “tramar”
(colocar drogas na posse de suspeitos vendedores ou adicionar mais droga
àquela que foi encontrada para converter um delito menor num crime
grave) (Knapp Commission, 1973). Ainda de uma outra maneira, a
Guerra Contra a Droga oferece um dos benefícios de uma verdadeira guerra
sem os seus custos e riscos. Toda a verdadeira guerra é um holocausto
de liberdades cívicas (Murphy, 73). Mesmo ao nível formal e legal, a
segurança nacional — um chamado “interesse obrigatório do estado” —
tende a impor-se aos direitos fundamentais, pelo menos até que o
tiroteio pare. Entretanto vigilantes patrióticos levam a cabo as
castrações, os linchamentos, e os incêndios — o trabalho demasiado sujo
para o estado fazer mesmo numa suposta emergência de guerra, mas não
demasiado sujo para o estado não fazer vista grossa depois. Os Estados
Unidos durante a Primeira Guerra Mundial e durante o Red Scare é um
exemplo; a Itália que os liberais deixaram que os fascistas tomassem,
depois de os deixarem, à margem da lei, esmagar socialistas, comunistas e
anarquistas, é outro. Mas a paz regressa e o terreno legal perdido é,
na sua grande parte, recuperado ou mais terreno ainda é retirado. Uma
vez que o estado tenha demolido irreparavelmente a oposição radical,
pode muito bem repor direitos constitucionais para os impotentes
sobreviventes e gozar o calor da sua própria glória anunciada,
desfilando a sua tolerância quando esta já não fizer qualquer diferença.
A falsa guerra é muito mais eficaz. Não pode ser conduzida sem
massivas invasões de propriedade e limitações da liberdade. O mais
importante direito individual implicado, e ameaçado pela Guerra Contra à
Droga é a Quarta Emenda [da Constituição], que proíbe buscas e
apreensões injustificadas. Este corpo legal efetivamente começou durante
a Proibição e hoje é, como afirma Fred Cohen, “conduzido pelas drogas.”
Os direitos de qualquer pessoa são definidos pelos direitos que a
Justiça de má vontade concede aos delinquentes de casos de droga. Outros
direitos são, também, reduzidos. Sob a legislação de confisco,
propriedade individual é retirada sem um processo ou justa compensação.
Aplicada a nativos americanos e outros, a legislação sobre droga
interfere com a liberdade de religião; como a prática comum de forçar
condutores embriagados a participar em “reabilitações” para os doutrinar
com dogmas religiosos dos Alcoólicos Anônimos. Até a campanha contra a
posse de armas é uma consequência indireta da Guerra Contra a Droga. A
proibição tornou a droga uma comodidade muito valiosa: no interior das
cidades, de longe uma das mais valiosas comodidades. Entretanto, os
toxicodependentes roubam para suportar o seu vício. O resultado é uma
corrida ao armamento e um clamor pelo controlo das armas. Uma proibição
conduz a outra. Para o criminoso, o último desafio é o crime
perfeito. Para o estado é a legislação perfeita. Será a proibição?
Talvez não. A proibição da droga é actualmente muito mais popular do
que a proibição do álcool alguma vez o foi, mas dentro da memória viva,
a descriminalização foi um séria possibilidade. Poderá tornar-se assim
novamente se a histeria anti-droga continuar a crescer até chegar a um
ponto impossível de suportar. E provavelmente crescerá, porque a Guerra
Contra a Droga foi institucionalizada. Várias agências e organizações
têm direitos adquiridos sobre a sua ilimitada expansão, embora isso
seja, não só impossível, como destituiria o estado da grande vantagem da
Guerra Contra a Droga sobre a verdadeira guerra: a sua previsibilidade e
exequibilidade. À medida que alguns órgãos governamentais crescem e
crescem, sobra menos e menos para os outros. Já que a vitória, tal como a
derrota é impossível, não existirão nunca “dividendos de paz” para
repartir. O estado está, provavelmente, já a gastar mais fundos da
sociedade civil do que seria consentâneo com os seus interesses a longo
prazo. Se mais e mais for tirado, o parasita matará o hospedeiro — ou o
hospedeiro matará o parasita. Eventualmente o estado poderá
sucumbir ao seu próprio sucesso. O estado é gigantesco. E é burocrático.
Isto significa que está intrinsecamente subdividido por funções (ou por
aquilo que era inicialmente considerada uma divisão do operariado por
funções: de facto, jurisdição sobreposta e conflituosa é comum e tende a
crescer com o tempo). Mesmo quando a mão esquerda sabe o que a mão
direita faz, pode não ser capaz de fazer nada acerca disso. A cooperação
entre agências torna-se mais difícil quando que se torna mais frequente
e mais necessária. “A complexidade da ação em conjunto frustra a ação
ou o seu objetivo” (Pressman & Wildausky, 1984). É muito
difícil administrativamente reduzir o orçamento de um gabinete, mas é
fácil aumentá-lo. Os gabinetes resistem ferozmente aos orçamentos
“zero-based” — isto é, partindo do zero, tem que haver uma
rejustificação anual de cada linha do orçamento apresentado — como se
tratasse do reinvento da roda. E é difícil as altas autoridades
identificarem áreas para redução de custos, se quiserem apenas, já que a
própria raison d’être da organização burocrática é a
deferência para com os peritos institucionais. A maneira fácil é tomar o
anterior orçamento como o presumível próximo; são apenas desvios do
status quo, não o status quo em si, que necessitam de justificação. O
gabinete, preenchido com supostos peritos, é ele próprio a fonte usual
de justificação para desvios, e os desvios são sempre na direção de mais
dinheiro e mais poder para o gabinete. O que vai para cada gabinete vai
para todos. Daí o governo cresce. Referindo a forma como a
competição entre trabalhadores faz descer os salários para todos eles,
Fredy Perlman (1969) observou: “A prática diária de todos anula os
objectivos de cada um.” Tal como acontece com a competição entre
agências pelo dinheiro dos impostos. As implicações a longo termo da
Guerra Contra a Droga são, para o estado, ameaçadoras. Quanto mais o
estado estende o seu controlo sobre a sociedade, menos controlo ele tem
sobre si mesmo, quanto mais o estado absorve a sociedade, mais fraco
como entidade responsável por uma coletividade ele se torna. Ele
desintegra-se num pluralismo autoritário reminiscente do feudalismo,
ainda que carecendo do seu charme romântico. Algumas agências engordam à
custa da Guerra Contra a Droga, mas muitas não. As que engordam são as
primeiras a seguirem os seus próprios caminhos. A procuradora-geral
Janet Reno não teve controlo sobre o Bureau of Alcohol, Tobacco and
Firearms quando este exterminou os Branch Davidians para ganhar o que
equivalia a nada mais do que um guerra de “gangs”: mas ela tomou a
responsabilidade. A Drug Enforcement Administration é igualmente tão
independente como o FBI de Hoover e a CIA de qualquer um. Para o
estado, outra consequência adversa inevitável da Guerra Contra a Droga é
a corrupção (Sisk, 1982). Não que a corrupção seja necessariamente uma
coisa má para o estado. Até certo ponto, as extorsões policiais a
vendedores de droga, chulos e outros empresários extra-legais beneficiam
o estado de diversas formas. Quanto mais os polícias recolherem em
privilégios e confiscos, menos têm que ser pagos em salário. Os polícias
cujos superiores sabem que eles estão envolvidos em extorsão (como
decerto sabem já que eles próprios a isso se dedicam também) (Chambliss,
1988) fazem vista grossa a não ser que, por alguma razão, tenham
necessidade de se livrar de um polícia em particular. A corrupção é,
pois, uma ferramenta de gestão. Mas alguns polícias tornam-se
demasiado gananciosos e vão longe de mais. A maioria são “comedores de
erva” (subornados) que aceitam aquilo que lhes aparecer, mas alguns são
“comedores de carne” (extorsionários) — corrupção ativa — que ativamente
buscam ou montam oportunidades de corrupção, como os detectives da
Special Investigative Unit retratados no filme Serpico
(Daley, 1978; Knapp Commission, 1973). Os comedores de erva dão
cobertura aos comedores de carne (o “código de silêncio”) já que todos
têm algo a esconder. Até recentemente, os administradores de polícia e
os seus aliados académicos julgaram poder manter a corrupção sob
controlo através de várias reformas institucionais, a maioria das quais
foram inicialmente propostas pela Comissão Knapp (Sherman, 1978). Talvez
as reformas resultassem, exceto numa coisa: na Guerra Contra a Droga. A
corrupção está de regresso, mesmo na NYPD* reformada por Knapp
(Dombrink, 1988). Já que as penalizações são mais severas e os lucros do
tráfico de droga são mais altos, a proteção que a polícia vende dita um
preço maior (Sisk, 1982). A corrupção motivada pela droga é o sector em
maior crescimento nos abusos de conduta da polícia (Carter, 1990).
Para o estado, o problema da corrupção descontrolada é que ela não
pode ser confinada ao espaço onde os benefícios excedem os custos. O
estado necessita da polícia para um bocadinho de imposição seletiva da
lei e, mais importante que isso, para controlo social — logo que a
situação exija furar uma greve, evacuar squatters, suprimir tumultos,
reprimir dissidentes e manter o tráfego a circular. Mesmo nestes tempos
sofisticados, em que a manipulação é a estratégia de controlo mais em
voga, frequentemente não há substituto para a arma e o cassetete. Mas
os polícias que impõem leis contra a droga ficam indisponíveis para
impor outras leis. Tem havido um expansão tremenda no trabalho de
polícias à paisana nos anos recentes (Marx, 1988), inevitavelmente
acompanhada de mais corrupção (Girodo, 1991). Os polícias, como
trabalhadores, são particularmente difíceis de gerir pois estão
normalmente sós, não controlados. Os detectives, especialmente, estão
numa posição de poderem ser reservados acerca das suas atividades
(Skolnick, 1975; Daley, 1978), e mais controlo do tráfico de droga
significa mais trabalho à paisana e de detective. Estes polícias
estabelecem a sua própria agenda. Os escândalos de corrupção
desmoralizam a polícia a ilegitimam o estado. A maioria das pessoas
obedece à lei na maior parte do tempo, não porque receiem ser punidas se
não o fizerem, mas porque acreditam no sistema. Assim que deixem de
acreditar, deixarão de obedecer — não só às leis que não importam (como
“não consuma drogas”) como também àquelas que importam (como “pague os
seus impostos”). E, ironicamente, operações anti-corrupção comprometem a
eficácia policial em outras áreas (Kornblum, 1976). O estado
adquiriu um peso tão grande que esse peso começa a quebrar as suas
fundações. Não é o tipo de elefantismo que pode ser aliviado através da
privatização. Não importa quem recolhe o lixo. O que importa é quem tem
as armas. A essência da soberania — os meios para impor a ordem — está
deteriorada. O cancro é inoperável. Os estado pode bem morrer de uma
overdose. [Referências no texto original]
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MensagemAssunto: Re: Capitalismo   Capitalismo Icon_minitimeQua Jul 07, 2010 11:17 am

Capitalismo Image%5B3%5D [PS: Encontrei esse
texto num Bloco de Notas dentro da minha pasta de arquivos recebidos via
MSN. Consta no arquivo que o recebi no dia 26/o4, mas realmente não me
recordo disso, e minha memória com essas coisas é realmente boa.
Procurei o autor por mais de uma semana e nada… nesse momento, estou
achando que o escrevi durante alguma disfunção de personalidade
realmente bizarra do Além - afinal, estou solteiro, nunca vi novela da
Globo e não fui ao RJ recentemente. Se você é o autor, conhece o autor,
ou viu esse texto publicado em algum canto (procurei via Google e não
achei nada), me mande um email ou reply no Twitter…]

Pelo que percebi, a Rede Globo está fazendo 45 anos. Então, vão
encher o seu saco, telespectador, repetindo o quão velha ela é, e o
quanto ela "marcou" a sua vida. Então, decidi escrever sobre ela. Rede
Globo... Ô Rede Globo... Eu almocei e assisti o Vídeo
Show
hoje. Nele, encheram a minha cabeça, querendo mostrar o
quão boa a Rede Globo é. Novelas, Reality Shows, Programas de Humor,
Jornais, etc. E passaram um pente fino em cada parte disso. Então, vou
tentar passar um também. Comecemos com o que mais me intriga: O
Humor na Globo. Cara, quando penso em humor na Globo, eu lembro de
Trapalhões, que marcaram minha infância. Todo santo almoço, lá estava
eu, com meu cabelinho bagunçado, um prato de arroz, feijão e carne, e
imitando o Mussum e o Zaca... Incrível que sempre gostei mais dos dois
que morreram. "Tudo que é bom dura pouco"... Tinha também o antigo Casseta
& Planeta
. Sim, o ANOOOOS antes do Bussunda morrer! Cara,
era engraçado! Sério, eu ria muito! Cheguei a comprar DVDs com melhores
momentos dos anos anteriores a morte do eterno dublador do Shrek. Bom,
nunca tive a oportunidade real de algum dia assistir TV Pirata,
o humor do Jô, ou o Chico Anysio Show (ou seja lá como
se escreve). Cara, pelos trechos que já vi desses programas, eu ri de
verdade. Algumas piadas eram ruins? De fato eram. Mas não se podia fazer
piadas sujas na TV, então, as limpas acabavam gastas. Hoje em dia, o
humor na TV se fechou no extremo da babaquice. Talvez o CQC tenha salvo
um pouco, com uma tentativa de humor inteligente que hoje em dia poucos
lembram. E olha que o programa foi ano passado! Quando não estamos vendo
um homem ser empurrado ao limite da babaquice, vemos piadas com duplo
sentido tão fracas quanto a do pintinho que não tinha c*. É
tanta bunda e peito, que você nem sabe se é um programa de humor com
apelo sexual, ou um programa sexual com apelo humorístico! Se a Globo
não está usando o humor "pornô", está fazendo piadas que hoje em dia,
nem uma criança de 10 anos em estado pleno de sanidade riria. A Globo
acerta nas piadas? Sim, cada ano menos, mas acerta. O problema é a
repetição... CARACA, eles acertam uma piada, fazem ela mais 100x,
remodelam, colocam personagens novos, fazem mais 100x... No final, são
outros personagens, outro contexto, outro cenário... MAS A PIADA É A
MESMA! Zorra Total, Casseta & Planeta Urgente, Caras
de Pau, S.O.S. Emergência...
Não só na Globo, claro. O humor
na TV Brasileira está uma porcaria hoje em dia. Está gasto, está velho,
está apelativo. Mas o texto é sobre a Globo. E uma das maiores redes de
TV do mundo se encaixa nisso. Engraçado mesmo, foi o Chico Anysio
dizendo: "Eu sou da Globo, eu ajudei a fazer a Globo, eu tenho
orgulho de falar que sou um artista global!
" Mas Chico... Você tá
na geladeira da Globo faz quanto tempo, hein? Te botaram pra fazer uma
pontinha na Caminho das Índias porque sentiram PENA de
você! O seu programa de humor? Foi ruim feito cerveja quente! Chico,
volta pra tumba. Agora... Reality Shows. No Limite,
Jogo Duro, BBB, BBB, BBB
, enfim... Alguém de fato
assistiu mais de 3 edições de Jogo Duro? Edições eu
digo mais de 3 episódios. Era um jogo bizarro, tenso, com dinheiro e
pessoas se ferrando. Talvez funcionasse no Japão. Porque aqui... Vocês
sabem o que ocorreu. O programa não durou meses! Mas, o que era o Jogo
Duro
? Eu o vi como uma cópia de No Limite. Só
que sem o Zeca, e sem dinheiro pra botar todo mundo numa ilha bizarra
no norte do Brasil. Afinal, o que é mais barato? Cobrir uma dúzia de
coitados numa ilha deserta longe da civilização por DIAS, ou botar eles 1
dia em 1 barracão abandonado que deve ter sido usado no último especial
do Didi? Fácil. No Limite também era beeeeem
besta. Talvez a primeira edição tenha sido interessante, a segunda
também, mas... Depois disso... Era a MESMA COISA SEMPRE! Gente suada,
morrendo de sede, brigando na areia num calor de fritar ovo, provas
ridículas, e o Zeca Camargo. Se bem que prefiro ele ao Bial... A Rede
Glogo tentou reviver o No Limite. O logo estava lindo, a
música tema refeita... MAS ERA A MESMA COISA! Resultado? Simples. Você
lembra dessa edição? Bom, eu realmente poderia meter o pau no Reality
Show menos Reality que existe, que é o BBB, que pode
ser traduzido como Brazillian Big Breast ou Big Bunda. Você assiste 3
episódios e já sabe quem vai ganhar. O pior de tudo é: VICIA!
Alguns são imunes, e se você é um deles, te saúdo! Eu não assistia essa
10ª Edição, até voltar do Rio de Janeiro. Fiquei 1 semana lá, na casa de
praia dos tios da minha namorada. E lá tinha o Pay-Per-View 24h... Fui
pro RJ nem sabendo direito do BBB, e voltei torcendo pro Dourado (se bem
que as tirinhas também ajudaram nisso). Não vou falar muito sobre
BBB... Tudo que tem para ser dito sobre tal programa já foi dito... E se
ainda não foi, não serei eu que o farei. Bom, se teve algum outro
Reality Show na Globo, eu realmente NÃO ME LEMBRO. Então devo dizer que
foi uma porcaria. Novelas da Globo... Consideradas as melhores
da TV brasileira. De fato, a qualidade delas é ótima. Fotografia, voz,
atuação... Tá, atuação nem sempre... Mas alguém já viu novela do SBT?
Então né... Novelas globais são interessantes... Mas não como antes.
Sério, eu gostei de Beijo do Vampiro, Chocolate
com Pimenta
... E só. Acho que são as únicas duas novelas que
gostei mesmo, até hoje. O resto nunca me chamou muita atenção. E chamam
cada vez menos. Essa Tempos Modernos que está passando
agora? Não assisti 1 episódio inteiro até hoje! Só assisti quando era
obrigado, como no dia em que fui em um lanche e por acaso o telão do
local estava ligado na novela. Agora, em casa, ligar a TV, e assistir
MESMO, eu nunca assisti. Bom, acho que já falei dos 3 carros
chefes da Globo, né? Humor, Novela e Reality Show (BBB). Sim, a Globo
tem uma coisa ou outra que é boa para assistir. Os especiais de música Som
Brasil
e Por Toda a Vida, eu os achei
excelentes. Resgataram bastante a musicalidade que havia nos programas
antigos globais. Programa do Jô é outro programa que
vira e mexe e me pego assistindo. É engraçado, tem informações
interessantes (interessante não é sinônimo de útil, ok?), e tem o Bira. Jornal
Hoje
eu sempre assisto no horário do almoço (hoje foi
excepcional). Eu e meu amigo já chegamos a conclusão de que o JH ainda
receberá o prêmio de melhor programa de Humor na Globo. São "as noticias
mais inúteis do seu dia"! Globo. 45 anos. E já tá caducando...
E depois o Silvio Santos que é maluco! Tá, ele é.
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MensagemAssunto: Re: Capitalismo   Capitalismo Icon_minitimeQua Jul 07, 2010 11:17 am

Capitalismo Image%5B2%5D Sabe aquelas baterias
porcas, que viciam, e são cheias de cerimônias na hora de serem
recarregadas? Elas não são de lítio. O lítio se tornou valioso
justamente por sua aplicação em baterias de smartphones e notebooks - e
algumas empresas já estudam a sua aplicação em baterias de carro -, e
por ser um bendito mineral raro e de difícil extração. Aí, surgiu uma
reportagem no New York Times anunciando que o o Departamento de Defesa
dos EUA, em conjunto com um destacamento de geólogos encontrou algo em
torno de US$ 1 TRILHÃO em lítio e outros minerais no Afeganistão, o
tornando uma espécie de Arábia Saudita do lítio, e encostando o
país no potencial da Bolívia, detentora das maiores reservas de lítio
do mundo. Claro que lítio é apenas o principal e mais raro mineral
encontrado por lá. Junto com ele existem reservas (imensas, segundo o
NYT) de ferro, cobre, cobalto, ouro, entre vários outros. Essa é
a parte bonita da coisa. Nossos notebooks e celulares não precisarão
ficar mais caros caso Evo Morales decidir que tava cobrando barato pelo
lítio… mas, ao que parece, o governo americano já tinha idéia de que
essas reservas existiam, graças a dados geológicos do governo soviético
datados dos anos 80, e desde 2007 tem ciência de que existem uma
quantidade muito significativa de minério precioso por lá, de acordo com
dados do próprio governo americano. As preocupações começaram
junto com o anúncio também, já que o governo de Hamid Karzai, presidente
do Afeganistão, está num mar de corrupção, e o Taliban é uma presença
fortíssima em várias províncias, assassinando várias autoridades locais,
inclusive adolescentes que servem como informantes do governo. Só em
março foram mais de 10 funcionários públicos assassinados. Os problemas
internos são tantos, mesmo esta sendo oficialmente a maior guerra em que
os EUA já se envolveu, que a inteligência americana presente no país
está dando mais atenção a corrupção do que ao Taliban, muito
provavelmente por questões financeiras envolvidas no desvio de verbas.
Existe também a questão da política externa. Os russos estão por
ali, logo na fronteira, e já fizeram suas aventuras no Afeganistão,
mesmo que não queiram se lembrar delas. Os chineses seriam uma “ameaça
maior”, já que são um pouco mais carentes de recursos minerais que os
russos e já possuem contatos corruptos com o governo afegão - e com os
Talibans, segundo alguns. Isso só analisando a questão do ponto de vista
atual. Pelo menos dois geólogos americanos que estiveram no Afeganistão
relataram que essas reservas já eram, ao menos parcialmente, conhecida
pelo governo e pelos militares americanos… desde 1995, o que dá uma nova
amplitude a essa descoberta, a própria Guerra do Afeganistão, e no fato
de Bin Laden jamais ter sido encontrado. Bonita Chamberlain,
que passou 25 anos no Afeganistão, é um deles. Ele é autor do livro Gemstones
in Afghanistan
, que relata justamente descobertas de 91
minerais em 1.407 locais do país. Ele ainda fez estudos oficiais com o
Pentágono, cujos relatórios, positivos do pontos de vista de haverem
grandes reservas no pais, ficaram prontos ainda em setembro de 2001 (mês
do 11/9). Jack Shroder, um geólogo da Universidade do Nebraska, é
outro. Logo depois da invasão americana ao país, ele disse ao Associated
Press que a vasta riqueza mineral do país seria decisiva para a
reconstrução dele. Na década de 70 ele ajudou o Pentágono a mapear o
país, e em 2002 foi procurado por várias empresas americanas que queriam
investir no Afeganistão. Em outras palavras: o anúncio não foi tão de
surpresa assim, e as autoridades já sabiam que tinham riquezas minerais
das maiores no Afeganistão antes mesmo de invadi-lo - estavam fazendo um
investimento pouco arriscado com a guerra, na linguajar capitalista.
Capitalismo Image%5B5%5D O próprio momento do
anúncio já está sendo colocado em xeque. Obama vive um momento delicado,
pois mandou mais tropas para o Afeganistão (não vou lembrar o que ele
falou na campanha dele com relação a guerra…) e está sendo cobrado por
resultados, já que bilhões de dólares estão indo pra lá e nada está
retornando. Então, é possível que esse dado, que já estava de posse do
governo há bastante tempo (o estudo completo já está pronto desde 2007,
bem antes de Obama decidir “retomar” a Guerra do Afeganistão), tenha
sido vazado propositalmente para o NYT (ando meio conspiratório com a
imprensa ultimamente, mas tudo bem) para trazer algum capital político
para ele, e o tom meio oba-oba da matéria parece indicar algo nessa
direção, pois não houve qualquer questionamento com relação ao
conhecimento do governo com relação a essas reservas anteriormente a
guerra. Outra questão que levantada foi sobre a infra-estrutura
do país, que não possui estradas, transportes, e mal tem grana para
pagar a própria polícia. Essa situação emergencial, aliada as fortes
denúncias de corrupção, podem levar as empresas e o governo americano a
fazerem tudo do jeito deles, e, como você está imaginando, levar tudo
embora. O fato é cedo ainda pra dizer qualquer coisa
mais aprofundada sobre o caso, já que pouco se sabe até mesmo da
veracidade dos números do tamanho da reserva - Hamid Karzai chegou a
dizer algo em torno de três trilhões. Mas um tremendo joguete
geopolítico está sendo armado, tanto do lado americano, quanto dos
vizinhos do Afeganistão - principalmente do lado chinês, parece. Se isso
vai ser decisivo para o exército americano ficar mais uns 10 anos no
Afeganistão, não sei, mas parece que o motivo principal que os levou a
irem pra lá apareceu (isso, além dos números sugerirem que o governo
americano incentiva a produção vertiginosa de papoula no país, do mesmo
jeito que fez com a heroína e cocaína no Vietnã)… Agradecimentos
ao Rodolpho
Zippo
, pelo link Notas Dados
do governo americano sobre riquezas afegãs | Assassinatos do Taliban | Matéria do Foreign Policy sobre a
política envolvendo o anúncio | Declaração dos 3 trilhões | Entrevista
do repórter do NYT ao Yahoo! | Heroína no Afeganistão Reportagem original
doNew York Times (tradução AQUI) [Via Boing Boing, Wired Danger Room e Atlantic Monthly]
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MensagemAssunto: Re: Capitalismo   Capitalismo Icon_minitimeQua Jul 07, 2010 11:18 am

Capitalismo Youre-totally-shitting-me%5B3%5D

"O homem é a medida de todas as coisas, das coisas
que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são."


Protágoras de
Abdera
"Um
duelo é a melhor maneira de se entrar em uma sociedade."

Isócrates
Sofismo: derivado do
grego sophós e sophia = sábio, sabedoria; habilidade intelectual natural

Gosto muito de discutir e
debater. É basicamente o pilar da minha diversão e da minha idéia de
trabalho: escrever e discutir. Discutir, não necessariamente para estar
ou se sentir certo, dono da verdade, vencedor de alguma coisa - embora
sempre goste de falar isso para quem está discutindo comigo - mas para
aprender, e por que não, fazer alguma amizade e conhecer diferentes
pontos de vista de um mesmo assunto. Começou quando Eu era criança e
inventava de polarizar praticamente todas as conversas com meus irmãos:
Rádio x TV, Mônica x Disney, Cérebro x Coração, mas principalmente
Comunismo x Capitalismo, e seu derivado natural, Rússia x EUA. Como meus
dois irmãos lançavam os mais variados comentários elogiosos ao
Capitalismo, passei a "defender" o Comunismo, de forma quase automática.
À partir do momento em que passei a definir o Comunismo como parte da
minha politizada e polarizada postura adolescente, naturalmente comecei a
pesquisar sobre o assunto. E muito. Ganhei diversos manuais de
Comunismo Científico escritos por Marx e Engels, além de alguma coisa de
Trotsky, tudo dado por comunistas que desistiram da vida. Ganhei alguns
livros de Viktor Suvorov que me fizeram me aprofundar em espionagem,
geopolítica e táticas militares - além de quase me terem feito entrar
para o Exército, isso depois de ter pedido uma passagem pra Moscou na
embaixada russa, via carta; história longa e meio patética. Depois
comecei a ler literatura russa de fato, uma das melhores dos séculos
recentes: Nabokov, Górki, Soljenítsin, Dostoiévski. Era um mundo legal,
combatido por aqui, e que poucos conheciam. Passava - e ainda passo -
discutindo como a União Soviética foi a verdadeira responsável por
mandar a Alemanha Nazista para o ralo, e não os americanos e seu
falacioso Dia D. Eu não concordava com porra nenhuma do que o
Comunismo pregava, nunca concordei, era irreal demais e possuía uma
visão de mundo babaca. Por mais que a teoria fosse linda para alguns - e
não era - a prática sempre foi brutalmente... real, e sempre mostrou
que existe um profundo abismo entre o que Marx escreveu e o que Stalin
aplicou. Pense em líderes comunistas, e o melhorzinho que você
conseguirá citar provavelmente é Tito, manda-chuva da Iugoslávia por
quase três décadas. Mas propagar o comunismo era ser o cool, o
"superior", o cara que entendia de política, o não-alienado, o cara do
contra, mesmo que a moda comunista tivesse passado com a queda do Muro
de Berlim, e centenas de milhões de comunistas fanáticos convictos agora
estavam com o status de desiludidos. Para um moleque de 13 anos como
Eu, isso fazia a diferença, e parecia quase tão legal quanto uma partida
de videogame, uma pelada com os amigos ou briga na rua. Eu não trocaria
minha vida no Brasil por uma vida em qualquer país comunista que fosse,
mas ainda assim defendia com toda a minha retórica uma miríade de
países que não hesitaria em lançar uma saraivada de bombas atômicas na
minha cabeça. Eu gostava de fazer isso simplesmente porque defender uma
causa tão perdida exigia um poder de argumentação sobre-humano, nem que
fosse para ouvir um Fica quieto! de uma professora sem paciência e
derrotada, após uma aula sobre Revolução Russa. Não importava o quão
ruim era o Comunismo, o lance era conseguir "vencer" discussões com um
monte de gente que se achava dona da verdade, e garantir umas horas de
diversão. Após ganhar um pouco mais de idade - e ter convertido
meu interesse pelo Comunismo em um já conhecido interesse pela Rússia (e
ter formulado uma teoria que dizia que a Rússia só funciona sob regimes
absolutistas, ou fortes, na linguagem deles... um dia escrevo sobre
isso aqui) -, outros assuntos interessantes entraram nas pautas das
minhas discussões. Era música, quadrinhos, literatura, cinema... mas
principalmente games, que geram os fãs mais obtusos e determinados,
quase trolls. Era só achar uma polarização, um cara que pensava
diferente, e... Que as discussões comecem! Naturalmente, só
procurava discutir com amigos, porque certas discussões podem trazer
sequelas, como alguns torcedores de futebol sarnentos fazem questão de
atestar. Aqui mesmo no NSN vocês já presenciaram discussões minhas,
inclusive com integrantes da equipe do blog (a do Wii vs Gamers
Hardcore
já é clássica). E com o ganho de idade entendi
melhor que debate não é só diversão, e também aprendi o conceito de
Opinião - e o debate é justamente uma arena onde as opiniões se
confrontam, e chegam até a se fundirem. Opinião é uma coisa que te segue
como uma sombra, suas opiniões geralmente te definem. Para mim, é
necessário tê-la, e não ter vergonha de expressa-la, mas nunca de forma
apressada ou sem embasamento. Mesmo sendo individual, por menos que se
admita, a Opinião é uma ferramenta de socialização. Pessoas geralmente
não aceitam opiniões contrárias às suas, e tendem a gostar de outros que
pensam como eles. É natural, não tem jeito. Desses meus primeiros
aprendizados de conceitos não tão concretos como Verdade, Opinião e
Argumento, passei a seguir o que denominei de linha de pensamento
Libertária (que naturalmente já existia, não inventei nada), o que ia
totalmente de encontro às minhas idéias anteriores com relação ao
Comunismo, que pregava coisas como Revolução Mundial e a extinção e
outras formas de política. Ser Libertário é aceitar todas as formas de
opinião e pensamento - desde que não afetem outras pessoas ou sejam
absolutistas, querendo se impor como verdade universal. Desta forma, ser
Libertário é ter um inimigo apenas: o absolutismo. O absolutismo é como
um câncer. É provavelmente a razão de ser de uns 80% dos problemas do
mundo. É um ser se achar mais importante que outro dentro de um conceito
generalista e existencial. E pior, perseguir os que pensam diferente.
Se alguém pede um exemplo de absolutismo, logo se imagina a recente
explosão do Nazi-Fascismo, e de seu teoricamente inimigo mais mortal
(que por sinal, é bem semelhante a ela): o Comunismo, que Eu defendi e
"preguei" até os 15 anos. Ou vão ainda mais longe, e citam a Idade das
Trevas, e seu símbolo máximo: a Igreja Católica e o papado; ou as
monarquias absolutistas da mesma época. Nessas formas de governo, o
monarca - seja lá que título ele tenha: rei, imperador, sultão - manda
em absolutamente tudo. Talvez até existiu alguma forma de liberdade em
alguns desses regimes, mas isso dependia da figura do mandatário querer
difundir a liberdade, já que as palavras dele tinham a força da lei.
Mas, ironicamente, o absolutismo de idéias tem registros muitíssimo mais
antigos que os da Idade Média, tendo surgido no chamado berço do
pensamento livre: a Grécia dos filósofos. No meu primeiro ano
do curso de Jornalismo, tive uma de suas matérias mais importantes:
Filosofia. Meu professor era um maluco de pedra, dava aula usando ternos
impecáveis, mesmo sob um Sol de 40º, e claramente tem uma posição
ateísta, o que irritou muitos dos alunos, mas acabou tornando-o meu
amigo - não que Eu seja necessariamente ateísta, mas gostei da forma
como ele abordou o assunto e deixou muito evangélico cheio de si
quieto.. Filosofia para mim parecia inútil até então, mas foi só passar
um semestre a conhecendo - mesmo que superficialmente - para entender
como conhecer a história do pensamento é deveras importante,
principalmente numa profissão que se baseia nisso. Mas alunos
de 17 ou 18 anos não conseguem estabelecer conexões entre gregos
barbudos que falavam de cavernas, e a gente aqui, no século XXI, com
internet substituindo os livros. Porém, como todos devem saber, a
história é uma entidade cíclica, e sempre se repete de tempos em tempos,
até mesmo num campo nebuloso como o Reino do Pensamento, e por isso se
torna tão importante estuda-la. As perseguições que ocorreram aos que
tinham idéias que iam de encontro ao pensamento Católico vigente na
chamada Idade das Trevas, já tinham ocorrido de modo bem similar na
Grécia. E da mesma forma, por pessoas que professavam a paz e a
pluralidade de pensamento - antes os filósofos da mais importante escola
grega, depois os papas, e hoje as corporações, pessoas jurídicas sem
rostos definidos, que dizem querer salvar o planeta. Capitalismo Image%5B9%5D No século V a.C., na
Grécia, nasceu ruidosamente a Escola Sofística. Seus adeptos - destaque
para Protágoras, Górgias, Pródico, Hípias e Isócrates - eram mestres da
retórica e do argumento, que viajavam o país fazendo discursos e
cobrando para formar estudantes interessados na busca pelo conhecimento e
na preparação para a política. Tais mestres queriam ganhar dinheiro,
espalhar conhecimento subversivo e conseguir cargos de poder através da
difusão de idéias nada convencionais. Eles foram mais longe e iniciaram a
mais forte guinada da história da Filosofia Grega: abandonaram a busca
pelo conhecimento metafísico e da constituição sobrenatural da natureza,
para concentrarem seus esforços no conhecimento do homem e do papel
dele na sociedade. É como se algum cardeal passasse a pregar que a
vontade do homem é superior a de Deus, para se ter uma idéia do nível de
pioneirismo revolucionário dos Sofistas. Quem saca de Filosofia vai
dizer que Tales de Mileto e Demócrito já tinha feito isso antes mesmo do
nascimento de Sócrates, MAS esses ainda buscavam o que chamavam de
Certeza, Verdade, algo que pudesse padronizar os fenômenos do mundo com
uma precisão matemática inédita e universalizar todo o conhecimento
existente de forma absoluta e incontestável. Não é nem preciso muito
esforço mental pra chegar a conclusão que essa galera pré-socrática
quebrou a cara, e iniciou uma onda de pessimismo, já que surgiram
diversas teorias, todas elas válidas do ponto de vista racional, mas
incompatíveis entre si. Eles chegaram a conclusão que não existia a tal
da Verdade Universal, mas não estavam muito a fim de voltar atrás no que
tinham dito, e isso permitiu a Platão tomar a dianteira com sua
castração de mundo metafísico superior - só para esclarecer: mundo
metafísico, numa linguagem aproximada = céu. O incensado
filósofo grego Sócrates, e seus três discípulos Xenofonte, Platão e
Aristóteles, que pregavam a superioridade de um mundo celestial e
místico sobre o mundo terreno, logo se opuseram e passaram a perseguir
os mestres sofistas. O choque das duas escolas - a Socrática Clássica
contra a Sofística - foi profundo de todas as formas. Sócrates e seus
discípulos defendiam a absolutização da verdade - e a superioridade da
religião sobre os negócios cotidianos - e ainda tomavam iniciativas no
sentido de somente passar o conhecimento deles para uns poucos
discípulos selecionados, que, às vezes, também eram seus companheiros
sexuais. Exatamente por isso, os (considerados) quatro maiores filósofos
gregos eram todos discípulos um do outro: Sócrates > Xenofonte e
Platão > Aristóteles. Para eles, a moral e o que chamavam de bem
coletivo, estava acima dos interesses e pensamentos individuais, e dessa
vertente de pensamento apareciam ideias como a da superioridade da
cultura grega frente a mundial, a divinização das leis e a
obrigatoriedade de se seguir os ensinamentos religiosos. Na
verdade, quando cito o Quarteto Socrático - Sócrates, Xenofonte, Platão e
Aristóteles - deve-se levar em conta que é bastante complexo saber quem
escreveu o que. Sócrates, o maior de todos eles, nunca deixou uma obra
escrita, por crer que as palavras são eternas, e seus ensinamentos são
conhecidos apenas pelas obras em forma de diálogo do seu discípulo
Platão. Alguns estudiosos (incluindo meu Professor, PhD em Filosofia
Política) dizem que Platão era manipulador, e se apropriou da obra de
Sócrates no intuito de conseguir fama para si próprio. Ele inclusive
negava com todas as letras outro fato: Sócrates também recebia pelas
aulas que dava, assim como os Mestres Sofistas - e mesmo assim chamou os
Sofistas de "prostitutos do conhecimento", mostrando que cuspia no
prato que o alimentou. Dessa forma, esse quarteto não era tanto uma
entidade única, um tijolo da verdade, como muitos pregam, mas está mais
para um grupo com um líder espiritual - Sócrates - que teve sua
imagem usada e deturpada por, pelo menos, um manipulador - Platão.
Sócrates buscava achar a verdade primeiro reconhecendo a própria
ignorância - e quando alguém afirmava algo, ele mandava o clássico: Me
prove!
. Para ele, o Conhecimento era mais importante do que
certezas, por isso criou desenvolveu a maiêutica, seu método de "parir
conhecimento". Ele se assemelhava a uma matemático ensinando equações de
segundo grau, sem deixar bem claro o valor prático delas; a equação era
linda por si própria, mesmo que não fosse muito útil. A bem da verdade é
que o Quarteto Socrático foi como uma Igreja Católica Grega: começou
sendo perseguido, mas logo passou a ser perseguidor. Seu grande fundador
- Sócrates - foi condenado a morte por "agitar a juventude" e Platão
logo se aproveitou disso. É bem similar a Pedro sendo considerado o
primeiro Papa - e substituto de Jesus e pedra angular do Cristianismo -
após a morte dele, e tendo sua imagem usada pelos papas que surgiram.
Capitalismo Image%5B11%5D Vieram os Sofistas e
contestaram tudo isso. Eles ensinavam que o homem como ser individual
era superior a todas as leis terrenas e formas de conhecimento
estabelecidas, desde que não se afetasse outros humanos. Nesse ponto, há
pequenas divergências entre eles. Protágoras, o maior sofista de todos,
respeitado inclusive pelo maior inimigo deles, Platão; se expressava
exatamente assim, enquanto Isócrates ensinava métodos de se obter uma
vitória completa contra os adversários, não importa os custos, às vezes
defendendo que num mundo violento é necessária a utilização de seus
instintos mais sanguinários para vencer. Em complemento a esse
pensamento individualista e amoral, os Sofistas defendiam a
desobediência a lei, e a busca pelo prazer terreno. Para eles, as leis
quase sempre se baseavam em princípios torpes, e tinham por objetivo
tornar algo verdade para todas as classes de indivíduos, enquanto uma
simples observação do mundo mostrava algo completamente diferente,
deixando claro que a sociedade era heterogênea. Para os Sofistas, a lei
era a personificação da vontade de um indivíduo sobre uma sociedade,
feita de modo cheio de interesses e incorreto, gerando indivíduos presos
em falsos grilhões morais, enquanto os ocupantes de cargos de poder
quebravam impunemente os princípios legislativos que eles mesmos criaram
- e sempre prosperavam com isso. Em outras palavras:
habilidade e prudência eram fatores muito mais propiciadores de sucesso e
felicidade que submissão e falsa moral se sobrepujando aos instintos
básicos humanos. Os Sofistas criaram áreas cinzentas, ao contestar o
preto e branco do maniqueísmo aceito, fruto dos pensamentos platônicos -
pensamentos esses que são a base de toda a idéia de conhecimento
ocidental moderno, principalmente da religião cristã monoteísta e
centralizadora. Eles foram mais profundos, e contestaram até mesmo a
base do método platônico: a Gnosiologia, que buscava criar um método que
estabelecesse uma certeza, uma verdade única, coisa em que todos os
filósofos haviam fracassado. Tais idéias, naturalmente, não foram bem
aceitas pelos senhores de si, seguidores da linha filosófica Socrática -
ou, mais corretamente, do pupilo de Sócrates: Platão, inimigo declarado
dos Sofistas. Outros fatores tornaram Platão inimigo dos
Sofistas. Os Sofistas eram itinerantes, e na Grécia os itinerantes eram
odiados. Era necessário pertencer a uma cidade para cumprir as leis
dela, e ainda lutar em caso de guerra. Eles não estavam nem aí e viajam
de cidade em cidade, oferecendo aulas de retórica, política, legislação,
cidadania, astronomia, gramática, matemática, e um conhecimento secreto
exclusivo deles: a Arte da Persuasão com Argumentos, coisa que não era
usada naquela época, já que o conceito de opinião não existia. E era
justamente essa itinerância que foi uma das fontes da sabedoria que
possuíam. Ao tomarem contato com diversas culturas diferentes, os
Sofistas puderam entender que não existia a Universalidade pregada por
Platão. O mundo, as leis, as culturas, os homens... eram todos
heterogêneos, variáveis, cada um pensava de uma forma, tinha as suas
verdades - que eram verdades praticamente absolutas para os que
acreditavam nela. Nem na Grécia existia nada próximo da Universalidade,
quanto mais no mundo. Um povo podia aceitar o poligamia, enquanto outro o
abominava. O mesmo valia para o canibalismo, por exemplo. Para eles não
foi difícil alcançar tais conclusões, mas para os filósofos clássicos,
isso seria complexo, pois suas bundas estavam presas a regras que
impediriam eles de conhecerem aspectos diferentes dessa verdade. Os
Sofistas também, em sua maioria, se tornaram ricos, persuadiam, e
ganhavam pequenas fortunas vendendo conhecimento. Nessa época, o
conhecimento era restrito por laços familiares. Somente a aristocracia
recebia educação nas áreas que os Sofistas ensinavam, por isso educação
era cara, e os Sofistas tinham essa consciência. Então, mesmo cobrando -
e Protágoras, muitas vezes, deixava os alunos escolherem o preço das
aulas, segundo Aristóteles - pela educação, os Sofistas a
democratizaram, preparando uma população culta. As causas para o
aparecimento do Sofismo podem ser resumidas em uma única palavra:
crescimento. Com o crescimento e difusão de idéias da própria Filosofia,
homens passaram a contestar os pilares dela, e isso só foi possível
através do conhecimento geográfico grego. Como foi dito, os Sofistas
eram itinerantes, tinham um conhecimento carregado de pluralidade
regional, e chegavam até a viajar para fora das fronteiras gregas. Esses
dois fatores foram a base da filosofia e da natureza contestadora dos
Sofistas, enquanto mudanças profundas no quadro político grego foram o
fator impulsionador para que eles iniciassem sua carreira como
professores da retórica. Após as Guerras Médicas - contra os persas - no
século V a. C., os gregos passaram a adotar uma democracia
representativa, iniciando ao que conhecemos hoje como poder legislativo.
Os líderes agora não eram mais "indicados pelos deuses", mas escolhidos
pelo apoio popular. Os Sofistas viram a oportunidade deles entrarem no
poder através dos métodos argumentativos deles, que baseavam a forma de
poder no poder do discurso, e no embasamento de idéias, por mais
absurdas que elas fossem. Eles eram árduos defensores da Democracia,
pois viam nela uma forma de colocar no poder gente que estivesse bem
preparada e que fosse apoiada pelo povo. Assim nasceu o Sofismo. Seus
seguidores passaram a viajar a Grécia, fundando escolas. Os Sofistas, ao
contrário de várias correntes místicas como a Kaballah, não
consideravam a Palavra um fim, uma entidade sagrada, mas sim uma
ferramenta de persuasão, de propagação de idéias, de obtenção de poder.
Platão invejava o poder de discurso deles, e falou com certo ranço:
“Esses [Tísias e Górgias] descobriram
que o provável deve ser mais respeitado que o verdadeiro; chegariam até a
provar, pela força da palavra, que as coisas miúdas são grandes e que
as grandes são pequenas, que o novo é antigo e que o velho é novo.
Mostraram finalmente como se fala com poucas palavras e como se pode
pronunciar um discurso de tamanho infinito.”

PLATÃO. Fedro. Rio de Janeiro:
Globo, 1945, p. 245
Os Socráticos foram mais
radicais inimigos dos Sofistas. Tanto que eles cuidaram para que sofismo
deixasse seu significado natural, sabedoria, para assumir uma
conotação de engano, mentira, erro, como hoje é mais conhecido,
embora a etnologia da palavra diga outra coisa. Esse conceito de erro
muito provavelmente surgiu graças a alguns filósofos que gostavam de
confrontar os Sofistas que viam. Como eram pegos de surpresa e sem tempo
para preparem sua retórica, os Sofistas confrontados utilizavam
complexos jogos de palavras, recheados de analogias, negações-afirmações
e armadilhas, o que dava tempo para eles formularem argumentos
melhores. Platão, o mais conhecido e idolatrado filósofo grego,
foi o mais radical detrator do Sofismo e chegou a criar seis
significados pejorativos para o termo sofismo: caçador interesseiro
de jovens ricos; negociante, por atacado, das ciências relativas à alma;
com relação às mesmas ciências, não se mostrou varejista; produtor e
vendedor destas mesmas ciências; filiava-se ele à luta, como um atleta
do discurso, reservando, para si a erística
. Pode parecer o inverso,
mas Platão se mostrou um grande troll, um cara que se levava
muito a sério, um sujeito com um rei na barriga, que enfiou cérebro
abaixo que ser aluno de Sócrates o tornava dono da verdade. Platão não
atacou as idéias dos Sofistas, não tentou desatar e responder os
questionamentos deles… Não, preferiu os chamar de filhos-da-mãe
gananciosos e traidores do movimento filosófico. Capitalismo 20070718klpprcfil_11IesSCO%5B2%5D
O
Mito da Caverna
Os Sofistas já merecem ser
lembrados por expor um paradoxo sério na personalidade de Platão. O cara
que escreveu o clássico, famoso e ultra-influenciador Mito da
Caverna
, na verdade usou sua própria analogia para tentar se colocar
acima de todo o conhecimento estabelecido. A idéia dele era dar aos
gregos uma coisa que nenhum grande filósofo tinha feito: achar uma
verdade essencial e universal pras coisas. Por isso ele usou o Mito pra
colocar um manto de escuridão sobre todos que não se alinhassem com a
sua verdade e os chamou de alienados, de moradores de uma caverna
escura. A todos que não concordavam com suas teorias, Platão
simplesmente os desqualificava. Os Sofistas chegaram e chutaram o ponto
fundamental do Mito e questionaram:Qual é essa tal verdade que falta a
todos?
Platão não sabia, ou melhor, achava que sabia, mas não
estava preparado para a retórica cheia de argumentos e armadilhas
verbais dos Sofistas, que usavam técnicas inéditas até então, como
analogias, humor ácido e comparações inteligentes - mesmo que
aparentemente absurdas. Hoje o Sofismo é a Arte dos mestres na
argumentação. Eles mostraram pra Platão que não existe uma Verdade linda
esperando para ser descoberta depois de uma longa reflexão feita com a
bunda sobre um monte de Atenas. Não, eles construíam verdades, cada um
fazia a sua verdade, e se partisse para o confronto com outros, só
precisavam provar com os melhores argumentos possíveis. Eles não
refletiam ou se isolavam, eles conversavam, entrevistavam, e aí sim
formulavam sua linha de pensamento. Não à toa os Sofistas foram os
primeiros jornalistas, professores e advogados da história registrada, e
ganhavam muito para prestar seus serviços. Naturalmente
os inimigos dos Sofistas não foram somente os derrotados Socráticos.
Boa parte da própria opinião pública estava contra eles, com medo que
todos questionassem a moral helênica, a justiça, a ordem social. Os
Sofistas não poupavam ninguém, encontravam brechas para detonar tudo que
havia sido estabelecido pelos gregos em muitos anos, debatiam pelo
prazer de debater, e criam que o debate em si era melhor que a vitória
arrasadora que geralmente alcançavam. Os aristocratas eram outros dos
inimigos deles. Antes, a educação era restrita a uns poucos escolhidos
para a liderança política grega. Os Sofistas trouxeram educação da mais
alta qualidade e estabeleceram um preço por ela. Foi com os Sofistas
itinerantes - e não com a Academia Grega, fundada por Platão - que se
estabeleceu o conjunto de ensinos que são usados até hoje. A
aristocracia viu seu domínio sendo posto a prova, viu o conhecimento ser
espalhado, e não ficou lá muito contente com isso e iniciou a
perseguição aos sofistas - qualquer semelhança com a perseguição aos
Compartilhadores NÃO é coincidência. Com a fórmula educação
para quem pagasse + questionamentos baseados em argumentos e não em
verdades universais
, outras ferramentas da elite começaram a cair. A
religião foi uma delas, pois os Sofistas mandaram um foda-se para o
vingativo e safado Zeus, para o esquentado Hades, o indeciso Hércules e
toda a gangue que vivia no Olimpo, ou seus lacaios que faziam o serviço
sujo na Terra e diziam ser os representantes deles. O Homem passou a ser
o centro da discussão filosófica, e coisas antes nebulosas, como ética,
política e educação, em contraposição aos pensamentos centralizadores
gregos - e para ver como a história é cíclica, pense nos Iluministas -
entraram na pauta de discussão, principalmente política. Vários
estudiosos afirmam que o Sofismo não pode ser considerado uma escola
filosófica devido ao seu extremado individualismo, mas esqueceram de
notar que essa linha de pensamento era uma mostra da coesão da Escola
Sofística. Dentre os ensinos deles, se destacavam o Ceticismo, o
Empirismo (é amigos, foram os Reis da Opinião Individual que criaram a
Ciência. Ou seja: Ciência se deriva da Opinião). Aliás, Sócrates e
Platão é que eram cheios de falácia e pregaram que nossos sentidos não
eram capazes de captar a realidade, e afirmavam que método para se
chegar a verdade era a indução mediante reflexão. Protágoras fez melhor,
uniu as duas coisas e criou o principal alicerce do Método Científico: a
Indução pessoal era responsável por achar a problemática, e o Empirismo
vinha com a comprovação de tudo. Capitalismo Image%5B15%5D
A
Escola de Atenas
- pintura de Rafael Aliás,
sem a retórica dos Sofistas, o Método Científico - que atualmente é uma
espécie de substituto para deus - usado até hoje seria muito diferente.
Os gregos acreditavam em revelações divinas, os Sofistas em experiências
terrenas e práticas. Mesmo céticos, eles não negavam tudo, como dizem
certos filósofos modernos. Eles criam que o Empirismo era a fonte de
idéias primordial, e não o conceito de idéias inatas e intangíveis que
era vigente até o momento. Eles queriam ver, e não acreditar em caras
que aparecessem dizendo que tiveram revelações; eram caras de pouca fé.
As revelações eram até aceitas, desde que comprovadas na prática, coisa
que os socráticos - principalmente Platão - não estavam preparados pra
fazer. É possível notar que a opinião, e o auto-conhecimento é como um
guia para a Ciência. Um cientista não inicia pesquisas às quais não
tenha interesses pessoais nos resultados. Ou, caso queira, pode muito
bem ocultar os resultados que não lhe são de interesse. Na busca pela
verdade, o senso do próprio cientista/filósofo ainda é o guia, não
importa quão bons sejam os métodos por eles utilizados. Nenhum cientista
é puro, por mais estudado que seja, ele ainda é carregado de opiniões,
ideologias, contratos, patrocínios. Os Sofistas criaram as bases
relativistas para todas as verdades universais, e elas ainda são válidas
sob todas as óticas do pensamento. O Ceticismo deles não queria dizer
que tudo era mentira, mas sim que tudo podia ser verdade, depende para
quem era a mensagem, e como ela era fundamentada. Felizmente,
as campanhas desmoralizantes de Platão & cia tiveram um certo efeito
inverso entre alguns filósofos modernos, e os Sofistas ganharam
reconhecimento de alguns. O principal reabilitador da obra sofística foi
Friedrich Hegel, filósofo alemão do século XVII, que após diversos
estudos, chegou a conclusão que sem os Sofistas, a obra de Platão seria
inócua, ou que a Filosofia Ocidental se encontraria travada, além de o
desenvolvimento da Ciência se atrasar. Eles não foram santos, alguns
eram gananciosos, queriam o poder e o dinheiro, e colocavam sua
sabedoria a serviço de quem os pagasse. Mas seu espírito democratizador,
questionador, heterogêneo e subversivo foram fundamentais para o
desenvolvimento da humanidade. Os Sofistas eram isso.
Eram o underground da Filosofia Grega, estavam para os socráticos da
mesma forma que o The Clash estava para os Beatles. Ou como Os
Invisíveis
estavam para a Outer Church. Eles eram os
anti-filósofos, não queriam salvar o mundo, apenas a si mesmos e os que
estavam ao seu redor, mais ou menos como o justiceiro mascarado
Rorscharch em oposição ao cheio de si Ozymandias. Eles eram violentos,
anárquicos, questionadores, não estavam nem aí se estavam soltando uma
manada louca numa sociedade acostumada com a perfeição e a ordem. Eram
como o Batman atirando uma bala radioativa nas bolas do Darkseid, coisa
que o Superman, com a força dele não conseguiria graças ao cérebro
diminuto. Causavam revoluções sociológicas destrutivas por motivos
pessoais, como o V desconstruindo uma Inglaterra distópica, vingando a
todos que deixaram ele do jeito que era. Eram milimetrica e malignamente
perfeitos em seus argumentos e tinham conhecimentos dos mais amplos,
como Sir William Gull, o Jack, o Estripador de Do Inferno.
Eles não tinham medo de jogar na cara da aristocracia que a verdade
deles era uma mentira, assim como Hunter Thompson. Os Sofistas
perceberam - assim como Neo, Morpheus e Trinity - que a maioria dos
homens não quer ser libertos, os que nascem escravos mentais
provavelmente continuarão com grilhões os prendendo para sempre. Os
Sofistas foram um dos criadores da Ciência Moderna, do Individualismo
perante o Coletivismo, do Conhecimento sobre a Fé. Foram eles os
precursores da contracultura, dos hippies, dos punks, , dos anarquistas.
O Sofismo foi um dos primeiros movimentos subversivos da história.
Foram eles que lançaram as sementes da Teoria do Caos e da Incerteza
Quântica. Graças a eles a Ciência se uniu a Opinião e ao Misticismo,
aliando métodos empíricos em coisas tão díspares, como a Magick e o
moderno Método Científico. Sem eles a Psicologia Jungiana de Arquétipos
não existiria. Os movimentos artísticos transgressores, como o Dadaísmo,
não teriam força. Sem os Sofistas as mulheres não queimariam sutiãs. O
mundo seria coberto com uma máscara de verdade universal, estaria
sujeito a leis divinas de forma obrigatória. O Sofisma permitiu aos que
quisessem, verdadeiramente saírem da Caverna. Sem os Sofistas, o Mundo
do Pensamento teria bem menos Liberdade. Se você está
lendo esse texto - ou um livro de Palahniuk, um manual subversivo de
William Powell, ou um manifesto de Bob Black - e não confessando seus
pecados na igreja mais próxima, tentando achar a verdade universal,
assim como todos os outros bilhões de habitantes do mundo ocidental,
agradeça aos Sofistas. É o mínimo que eles merecem!
Referências: Sofistas e Sócrates -
Sandro Dau [PhD em Filosofia Política] Análise
das Obras Górgias e Fédon de Platão
- Mário Ferro e
Manuel Tavares Dos Argumentos Sofísticos
- Aristóteles PS: Que fique claro que analisei apenas alguns
aspectos da obra das duas escolas filosóficas, principalmente no que
tange ao conceito de Verdade. Logicamente que os Socráticos
desenvolveram muito mais conhecimento do que os citados, mas o âmago da
busca deles - a Certeza - e a perseguição que empreendeu aos Sofistas
foi incorreta, como qualquer um pode perceber.
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