Pensa-se em dicotomia, mas no fundo trata-se de uma simbiose em que
o resultado deverá ser sempre um resultado do desempenho. Trata-se de
um pleonasmo.
Se por um lado falo de Futebol, por outro falo de Formação.
Formação! E o que é formar? Ou melhor… quem estou a formar? Antes de
tudo interessa perceber isto. E depois de saber quem estou a formar e
qual a realidade na qual os jogadores estão inseridos, definem-se os
objectivos para o grupo? E volto mais cedo ou mais tarde à pergunta “o
que é formar?”. E a resposta é?... “Depende!”. De quê? Do
contexto. Mas que contexto? Um contexto multidimensional onde vários
campos interagem. Os pais, a família, a sociedade (amigos, televisão,
internet), os professores e treinadores, entre outros. Trata-se de um
número vastíssimo de domínios que interagem entre si. Mas a
complexidade reside no facto de estes agentes todos não interagirem
sempre no mesmo sentido. E tudo isto influencia o que os jovens
jogadores vêm!
Eliminando domínio a domínio neste artigo ficamos com dois:
treinador e pais. O que vêm os pais? O que vê o treinador? O que
significa “desempenho” para os pais? E para o treinador? Do ponto de
vista dos pais, não se fundirão de forma redutora os conceitos de
desempenho e resultado? Para o treinador (para mim), certamente
fundem-se mas não de forma redutora, porque o desempenho (cumprir ou representar algo)
está sempre em primeiro lugar. Cumprir ou representar o quê? Uma ideia
de jogo, um argumento. Podia ser outra ideia, mas não é. É aquela que é
“defendida com unhas e dentes”! À qual estão subjacentes regras que
devem ser cumpridas para que os resultados (o cumprimento ou a representação daquilo que se pretende) surjam!
E aliado esse cumprimento ou representação, deve
ser sempre considerado o esforço dos jogadores. Por norma não se
valoriza o esforço dos jovens jogadores (o que é absolutamente ERRADO),
exacerbando-se com frequência o resultado desportivo expresso pelo
marcador final (o Jogo traduzido em números… 2-2, 5-2, 0-4) e a
classificação de jornada a jornada (o Treino traduzido em números… 7º,
9º, 3º). De facto, todas as jornadas devem interessar, mas nunca de
forma tão redutora. Interessarão sim no sentido da superação da equipa,
tendo em conta o cumprimento ou não daquilo que se pretende, a representação ou não daquilo que se idealizou como forma de jogar. Porque se trata de um processo em que os resultados vão surgindo aliados à qualidade em primeiro lugar. A relação entre qualidade e quantidade poderá ficar para um artigo futuro...
No fundo, pensa-se no resultado “como se os golos caíssem das árvores e não fossem consequência do jogo” (Jorge Valdano).
Posto tudo isto… Esforço – resultado ou desempenho – resultado? Ou
será desempenho – esforço – resultado? Qual a equação ideal para este
problema? E o que significa cada um destes termos para os agentes da
formação? E qual o tipo de realidade em que rodeia cada um desses
agentes?
Partindo de uma pergunta, chegaremos a várias perguntas que devem ser
colocadas (por todos os intervenientes e não só pelo treinador) antes
de qualquer acto. Assim, como refere Jorge Valdano, “Supõe-se
que os resultados se lêem no marcador e os argumentos no jornal. Mas se
os jogos continuarem a ser analisados de modo tão rudimentar na próxima
semana irei ao quiosque e, em vez do jornal, pedirei o marcador
simultâneo.”.
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