Resumo:
As novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) tendo como face mais visível a
Internet agora complementada com tecnologias de comunicação móvel e WI FI (Wireless
Fidelity), deram origem a uma pletora de actividades comunicativas de cariz social, cultural e
político nos seus espaços mediáticos (ciberespaços) onde, traduzindo as realidades políticas e
económicas que os enformam e a reflexividade da dimensão técnica e social da tecnologia, se
objectivam relações dialécticas entre estrutura e agência.
As TICs ao oferecerem a oportunidade de reconfiguração, reapropriação e redistribuição da
cultura dominante, interpelam a determinação em últimas instância das estruturas sóciotécnicas
que as enformam e, ao afirmarem a autonomia relativa dos utilizadores, demonstram a
possibilidade do uso poder (ainda) fazer o sentido da tecnologia.
Este trabalho de natureza exploratória das formas de expressão do si e de luta política mediada
pelas TICS, sugere a necessidade da sua (re)teorização de um ponto de vista crítico e
reconstrutivo a partir da análise sóciotécnica
da acção dos poderes corporativos e estatais (os
grandes actores) determinantes dos usos hegemónicos da Internet e da sua significativa tentativa
de fazer divergir as possibilidades tecnológicas de interacção (rede potencial) das reais
possibilidades da sua prática (rede de uso).
Palavras Chave:
Reflexividade, código, software, poder, ciberactivismo, Blogs, smart mobs, Zonas Autónomas
Temporárias
2
O
software como ideologia e a guerra do código
O código, linguagem escondida da realidade digitalizada (Lessig, 1999), surge como
metalinguagem e elemento de metaestruturação das TICs, na medida em que estabelece
o quadro das possibilidades de pensamento e acção inscritos no software e constitui o
princípio gerador de um habitus virtual 8 .
O controlo sobre o código e a sua propriedade, o mesmo é dizer sobre o poder de
criação de sentido e controlo social das suas condições de produção e distribuição, surge
assim como determinante locus de afirmação cultural e decisiva luta politica.
Uma luta onde se explicita a ambivalência da Internet enquanto dispositivo
indispensável à globalização da lógica capitalista baseada na propriedade (privada) e no
lucro e a possibilidade da sua contestação através da acção directa e da criação de
situações (Debord, 1992) assentes na cooperação e na dádiva (potlatch).
É disso exemplo a batalha que opõe os defensores do software proprietário aos
defensores do software livre e do código de fonte aberto 9 e os esforços destes últimos
contra a patenteação dos algoritmos informáticos e dos seus processos como premente
ameaça a uma (ciber)cultura activista e desobediente dos poderes instituídos.
É disso exemplo a tentativa de controlo das práticas dos dispositivos de comunicação
ponto a ponto (pear to pear–p2p) que permitem a troca de todo o tipo de ficheiros,
razoavelmente entendidos como ameaça por uns e exaltados por outros (Bauwens,
2005).
8 Habitus virtual : inscrições que enquanto disposições normalizadoras das práticas traduzem a
semântica do dispositivo pretendida pelos autores e desenhadores do software, que, com maior ou
menor flexibilidade, determinam o grau de autonomia das práticas do utilizador.
Habitus: disposições duráveis e transponíveis que, integrando todas as experiências passadas funciona
em cada momento como uma matriz de percepções, de apreciações e de acções
…et rend possible l'accomplissement de tâches infiniment différenciées, grâce aux transferts
analogiques de schèmes permettant de résoudre les problèmes de même forme (Bourdieu, 1972 pp 178179)
9 Resultado do esforço e colaboração de programadores de todo o Mundo estão disponíveis desde
plataformas de distribuição de elearning
(ex. moodle), sistemas operativos (ex.Linux), gestão de
conteúdos (Content Management Software, ex. Mambo; Drupal) ou processadores de texto (ex.
OpenOffice) à própria World Wide Web que o seu criador Tim BernersLee
não patenteou.
vide– UNESCO Free Sofware Portal:
http://www.unesco.org/webworld/portal_freesoft/Software/ (acedido 02.03.2004)
http://www.bocc.ubi.pt/pag/vidal-jose-activismo-novas-tecnologias-informacao-comunicacao.pdf