Etimologia de Lisboa
Origem do nome da Feliz Cidade - LISBOA
Os Árabes dela disseram maravilhas e escreveram: “Aluxbuna... O seu antigo nome é Cudia (Kudia)...” “A cidade de Lisboa é por sua natureza bela...” são extractos interessantes do que escreveu Alhimian. Em Edrici encontramos uma das mais antigas citações de Almada. “Situada Lisboa nas margens do Mar Tenebroso, tem à sua frente na margem oposta e junto à foz do rio o forte de Almada, assim chamado porque o mar lança palhetas de ouro sobre a margem. Durante o Inverno, os habitantes da região vão junto ao forte à procura desse metal e entregam-se à faina com maior ou menor sucesso, enquanto dura a estação rigorosa.”
Reparemos na frase de Arrazi ao falar de Almada... “...Em Almada há um viveiro de fino ouro. E entre Lisboa e Almada vai um braço de mar que entra no Tejo, e na divisão com Beja estão uns montes a que os seus moradores chamam Arrábida.”. Ora, como pode Arrazi estar falando do sítio de Almada? Verifica-se que se refere à região, e não a Almada, vila, lugar, ou sítio. Região que tinha um Porto importante - economicamente: portagem, de pesca e transportes, de pessoas, alimentos, vinhos, etc.. Verdadeiramente, com praia defendida das ondas atlânticas, onde os barcos varavam, e onde se embarcava e desembarcava em catures, em “coulés” ou escorridos, etc., de e para Lisboa. Logo, Cacilhas, no mínimo, tão antiga como Lisboa. e situada defronte desta, que era mais Alfama (o Bairro Judeu).
Dita fundada por Ulisses, o herói grego da Odisseia, mas é invenção Clássica em habitual ligação a personagens célebres. Se Homero escreveu, ou compilou, a Ilíada, em 700 a. C.; a conquista de Tróia foi do século XII a. C.; logo, como poderia ele vir fundar uma Cidade, aqui? Para quantos e quais habitantes? Aqui, onde já fenícios traficavam?! Talvez, melhor, tenham encontrado a cidade de Nausicaa.
Outros dizem ser fundada ou chamar-se: Elissa, a princesa fenícia; Eliasser da casa de Abraão; Elis, o bisneto de Noé; Lysias, filho de Baco; Luso, filho de Sículo, estão no primeiro caso. A. Mendes Correia fá-la vir de Elassipos, da quarta gestão de Clito, princesa atlantideana, e S. Dinotos fá-la vir de Rúben, o bíblico filho de Jacob e Lia. Diz-se também que Allis Ubbo, significa “Enseada Amena” fenício; e noutras línguas: Lix Boa ou Olis Boa, significando Águas Boas, Águas Belas, Abundantes de Canais, Águas Livres ou Terras de Azeite. Estariam no segundo caso como as seguintes:
Lys ou Luz seriam também Terras de Muitas Águas. Lys poderia ser o céltico Extenso e Comprido e seria o rio Luso de onde teria vindo Lusboa e Lusitânia. Lixboa poderia ser, também, do celta, Horta Rodeada de Recinto Forte, e Lusitano seria o homem belicoso e de grande estatura. Foram também apresentadas hipóteses originadas no semita Luz, o burlão; Luz, empapado; Luz, valente; e Luz, amêndoa.
João Bonança e João de Almeida ligaram-na com a Luz e Claridade em Luz Boa de uma forma quase directa. Leonel Ribeiro a chama de Vau Bom e Liso por Lis - Uba - On. Strech de Vasconcelos, que a faz derivar de Elix Bona, significando em grego Abundante de Canais, quase apresentava a hipótese por nós defendida:
“Tivesse lugar a brincadeira, defenderia a tese mais apropriada e verosímil de Olysipona, palavra grega significando lugar de descanso e que livra de penas ... mas por excessivamente metafísica, rejeita a hipótese.”
Para mim, não se trata de apresentar uma ideia nova, mas de uma ideia antiga que tem sido menosprezada. Não devemos acreditar nas histórias que nos contam dos Romanos, neste caso Júlio César, pondo nomes a torto e a direito, segundo estivesse mais ou menos bem disposto. Como se a força da tradição, os costumes do povo aceitassem de bom grado e de modo generalizado a mudança dos nomes das terras de nascimento. Assim, estou convencido de que Lisboa, chamada pelos Romanos de Felicitas Julia, sempre teve o mesmo nome ou pelo menos aceitou traduções escritas que os Romanos, Gregos e outro usaram, como era hábito na época.
Os Romanos, ao chamarem-lhe Felicitas, não fizeram senão perguntar aos naturais como se chamava a sua cidade, e, ao ouvir um som que lhes pareceu Olispona, perguntaram se isso significava alguma coisa e obtiveram a resposta de que isso queria dizer Felicidade ou Feliz e, desse modo, passaram a escrever Olissipo-Felicitas, que era o nome da cidade nas duas línguas, em qualquer delas significando o mesmo que na outra. Não sendo, no entanto, nenhuma delas indígena, mas de povos invasores. A primeira dos Fenícios, a segunda dos Romanos.
ºaLiIZ, ºâLiSh, etc. em semita significando Felicidade, Exultação, Alegria, Contentamento. [Que podemos admitir estar no grego Xaírós, de onde, talvez, Skéria] Exulto, significa em latim Saltar, Pular, Ferver, Palpitar, Exultar de Alegria, Estar Orgulhoso, Envaidecer-se, Orgulhar-se. etc. Liga-se este nome a Felicitas. Que não é mais do que a tradução em latim do seu nome anterior. Os Gregos, os Romanos, os Fenícios e outros povos antigos tinham por hábito mudar para as suas próprias línguas os nomes de pessoas e de cidades. Uns traduzindo-as, outros mudando-lhes a pronúncia.
Júlio Castilho, que aceita o Allis Ubbo, justifica-o deste modo: “Quem nos pode dizer se a baía não foi então mais vasta e formosa do que hoje?”. “Poderia ser” afirma, acrescentando “que tivessem as vertentes do Tejo dois desaguadouros para o Oceano, um ao norte, outro ao sul, ficando os penhascos de Almada no seu meio a modo de uma ilha como anteriormente dizia o barão de Eschwege.”
Existindo a antiga forma Kudiya, é mais uma achega à hipótese que apresento, pois, em grego, temos Kudaíno, de Kudos, que é: celebrar, honrar, glorificar e causar alegria a alguém, tributando-lhe honras. Vemos, então, que os Gregos, ao lado da forma Olissipo, transcrição da pronúncia como a ouviam os primeiros helenos que por aqui se aventuraram, também usaram a tradução do nome Felicidade como mais tarde fizeram os Romanos.
Como facilmente vemos, relacionado está o grego Kudos, que significa, senão alegria pura e louca, pelos menos aquela alegria orgulhosa, e vaidosa, a alegria de ser honrada, celebrada, glorificada, de ser, enfim, ilustre e famosa, Felicidade, em suma. Aqui nesta terra feliz, onde o Sol se escondia, a deusa Lua tinha os seus melhores e mais fiéis admiradores. Ligada ao planeta Vénus e reunida ao culto de Cynthia, vemos, aqui, desde os tempos imemoriais, a adoração da Deusa-Mãe representada pelos aborígenes nas mais antigas representações lunares. Vemos que o seu nome primitivo deveria começar com Ast, com o significado de estrela, fado, felicidade, como se vê no dicionário de Carlos Góes, de raízes e cognatos, 1921, Brasil.
Concluiremos reafirmando que os antigos não apelidaram de novo e arbitrariamente esta cidade, mas traduziram nas suas línguas o seu nome que foi, é e será: A Cidade Feliz. A mais ditosa cidade do mundo... Lisboa, a sempre feliz.
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